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amália rodrigues - Universidade Aberta

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AMÁLIA RODRIGUES: COM QUE VOZ CHO(RA)REI MEU TRISTE FADO!<br />

- A POESIA NO UNIVERSO FADISTA DE AMÁLIA -<br />

do nosso quotidiano, para ilustrar como que uma cantilena infantil: a<br />

rola, o botão, a formiga, a cabra, a abelha, o grilo, o galo, a porta, a<br />

argola, o anel, a casca da fava, a ervilha, o garrafão, a bilha.<br />

Visualizamos também uma mistura de estações do ano, onde<br />

Primavera e Verão se entrelaçam, dando assim origem a esta história<br />

da cabra cabrita, de recorte claramente surrealista como podemos ver<br />

no exemplo que se segue:<br />

“ A rola põe-se na rua/ o botão põe-se na casa/ Vem o sol e vai a lua/ E a<br />

formiga perde a asa” 162 .<br />

Em “Tenho campos tenho flores” num acto de confissão o sujeito<br />

poético diz-nos o que pode contribuir para a sua felicidade. Tem<br />

campos, tem flores, tem o céu e o sol, não esquecendo o mar que traz e<br />

leva os amores e com eles, os sonhos. Tem também o dia e a noite. E as<br />

saudades.<br />

Novamente, o sentimento presente de um tempo perdido, mas não<br />

esquecido: o da sua infância e juventude.<br />

Esse era um tempo idílico, uma nova Idade do Ouro 163 , para sempre<br />

perdida em que apesar das numerosas privações, Amália foi feliz. Como<br />

162 Idem, pp. 299-300.<br />

163 A Idade do Ouro foi um mito tratado por vários escritores desde o “Paraíso<br />

Perdido” do poeta inglês Milton (1608-1674) até ao “Bom Selvagem” de Jean-Jacques<br />

Rousseau (1712-1778). Corresponde ao mito cristão do Paraíso habitado por Adão e<br />

Eva, um período em que o Homem, embora isento do conhecimento lúcido sobre si<br />

mesmo e o que o rodeia, aufere de todos os dons de uma natureza pródiga, não tem<br />

de lutar para sobreviver. É simplesmente o sujeito de uma economia recolectora.<br />

Metaforicamente, o Homem, ao adquirir o Conhecimento, perde o Paraíso. Como se, ao<br />

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