amália rodrigues - Universidade Aberta

AMÁLIA RODRIGUES: COM QUE VOZ CHO(RA)REI MEU TRISTE FADO!
- A POESIA NO UNIVERSO FADISTA DE AMÁLIA -
O que fascina, na personalidade de Amália, é que, paradoxalmente, é
extraordinária na sua simplicidade e paralelamente dotada de uma
grande complexidade. Podia ter sido uma grande e virtuosa intérprete,
como tantas outras, mas não se limitou a tal. Senhora de uma
extraordinária voz, transformou o fado. Tornou universal o que era
uma canção “nacional”, nele juntando o erudito e o popular. Conquistou
os intelectuais sem nunca atraiçoar as origens.
Amália soube interpretar o sentimento mais profundo de uma nação
e, ao mesmo tempo, influenciá-la e marcá-la de um modo forte e
personalizado. Galanteada pelos poderosos, Amália nunca deixou de se
sentir uma mulher do povo.
Esta rara dimensão é que a tornou extraordinária, ao entregar-se
com genuína sinceridade em cada canção, pois, como disse um dia:
“ O fado não se canta, acontece”. 181
A todos nós, deixou um legado luminoso e inspirador. Esse foi talvez
o seu definitivo e derradeiro gesto de amor.
Um dia, em entrevista à revista Visão propuseram-lhe um dos seus
poemas como forma breve de lhe contar a vida em verso. Amália
folheou o seu livro e parou na página 93 182 :
181 Idem, p. 197.
182 In, Visão, AMÁLIA: O Mapa do Tesouro, 23 de Outubro de 1997, p.111.
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