amália rodrigues - Universidade Aberta

AMÁLIA RODRIGUES: COM QUE VOZ CHO(RA)REI MEU TRISTE FADO!
- A POESIA NO UNIVERSO FADISTA DE AMÁLIA -
de ritmo e de muita saudade e que, devido à sua natureza, podia ser
transposto para uma tela de pintura. Aqui, Amália reconhece que pouco
sabe da sua origem conforme o podemos comprovar nestes seus versos:
“Sou filha das ervas/Nelas me criei/ (...)/ E pouco mais sei” 158 .
O lado crente e a religiosidade de cariz popular pode ser visto no
poema “Vi o Menino Jesus”. Aqui podemos testemunhar a
adoração/devoção por Nossa Senhora e por seu filho. Poema luminoso
em jeito de prece. A sua rima é acompanhada por uma musicalidade
rara e original, como se pode constatar nos seguintes versos:
“ Vi o Menino Jesus/ Que bonito que ele vinha/ Trazia estrelas de luz/ Ou
eram brincos que tinha/ (...)/ Nossa Senhora/ Meu roseiral/ Enchei de rosas/
Este Natal” 159 .
“Fui ao mar buscar sardinhas” é um poema brejeiro onde o jogo de
palavras reflecte a simplicidade da escrita amaliana. A autora joga com
os conceitos “Sardinhas”, “Amor”, “Vapor”, “Francês”, e “Mar ” para
formar uma história simples. Dominante é ainda a ideia do ser livre, de
não se estar sujeito nem preso a nada. Porque só quem nada tem é
livre.
O mar, uma das grandes paixões de Amália, serve de cenário a este
poema pela sua vastidão ilimitada. E, por gostar desse mar infinito, o
sujeito poético deseja, no final, ser livre como a sardinha:
158 In, Antologia poética: ‘corpus poético’ amaliano, pp.296-297.
159 Idem, pp. 301-302.
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