amália rodrigues - Universidade Aberta

AMÁLIA RODRIGUES: COM QUE VOZ CHO(RA)REI MEU TRISTE FADO!
- A POESIA NO UNIVERSO FADISTA DE AMÁLIA -
plena comunhão com a paisagem numa espécie de panteísmo 157 – ou
seja, o seu lado solar - .
Por outro lado, o ‘stress’ da sua vida de artista, a solidão que a
natureza do Mito sempre acarreta, a solidão acompanhada, a pior das
solidões, apesar da corte vasta que a rodeava – ilusão de se encontrar
assim mais protegida e menos entregue a si própria, encontrava nos
seus espectáculos e nos aplausos do público a confirmação e razão da
sua existência e da necessidade de ser amada.
O contacto com a Natureza, regresso à pureza inicial, servia de
reencontro com as memórias de infância e um tempo recuperado de
despreocupação e felicidade, expressão de um panteísmo de que
Amália, como conceito intelectual, nunca teve consciência, mas que, no
seu dia-a-dia, foi uma das suas grandes linhas de força.
No poema “Sou Filha das Ervas”, faz-se a exaltação da
Natureza/Mãe. O sujeito poético intitula-se ‘filha das ervas’, repleta
de cheiros, cores e alegrias. De repente, dá-se como que um regresso a
um passado distante, a infância/juventude, que teima em nunca mais
voltar, como um paraíso perdido. Poema repleto de um colorido ímpar,
157 In, Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea – Academia das Ciências de
Lisboa – 2º volume. Editorial Verbo. Lisboa, 2001: “ Doutrina metafísica segundo a
qual Deus e o mundo formam uma unidade. Para o panteísmo Deus é imanente ao
mundo, não distinto deste. Tendência para considerar a natureza como um ser divino,
dotado de uma unidade vital e dinâmica”. P.2737. Doutrina que seria incorporada, no
âmbito do Cristianismo, por São Francisco de Assis, Il Poverello: “o irmão lobo” , “a
sua irmã lua”.
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