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editorial protagonistas de um passado histórico recente: lutas

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ele, os camponeses até hoje sabem pouco dos problemas que acontecem<br />

pelo mundo, e por isso ele tentava mostrar lentamente porque “o mundo é<br />

como é”, resgatando a história e os conflitos da aristocracia rural. Iberé diz<br />

ainda que as Ligas não eram revolucionárias, e que <strong>um</strong> dos principais<br />

objetivos era ajudar no possível: “arranjar <strong>um</strong> caixão pras criancinhas que<br />

morriam. Os pais não tinham dinheiro. Havia necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudar as<br />

coisas, as Ligas se transformaram n<strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ento”.<br />

“A gente tava se preparando pra <strong>um</strong>a gran<strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão<br />

nesse país, mas o golpe veio primeiro e acabou com tudo”.<br />

Em fevereiro <strong>de</strong> 64, Campos estava <strong>de</strong> passagem na cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro com <strong>um</strong> companheiro. Voltavam do congresso do PORT (Partido<br />

Operário Revolucionário Trotskista), ao qual tinha se filiado. Com <strong>um</strong>a pasta<br />

cheia <strong>de</strong> livros subversivos e <strong>um</strong>a faca, foi preso no bairro do Catete.<br />

Campos viu o “companheiro” sair andando calmamente <strong>de</strong>pois que os<br />

policiais o pegaram. Levado para o Dops (Departamento <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>m Política e<br />

Social, cujo objetivo era controlar e reprimir movimentos políticos e sociais<br />

contrários ao regime), teve a sorte <strong>de</strong> ser reconhecido por <strong>um</strong> policial<br />

militar que havia trabalhado com seu tio, José Carlos Néri, herói <strong>de</strong> guerra<br />

da Marinha e diretor <strong>de</strong> <strong>um</strong>a penitenciária.<br />

“Um cara do nor<strong>de</strong>ste no Catete, dizendo que ia pra <strong>um</strong>a reunião<br />

na UNE... Eu caí na prisão no momento em que o golpe ia acontecer, por<br />

acaso. Havia interesse em pegar qualquer pessoa”. Deu nos jornais: “Preso<br />

gran<strong>de</strong> subversivo do Nor<strong>de</strong>ste”. De <strong>de</strong>ntro do Dops Campos acompanhou o<br />

Comício da Central do Brasil, no dia 13 <strong>de</strong> março. Lá, ouviu João Goulart<br />

anunciar as reformas <strong>de</strong> base e Carlos Prestes, lí<strong>de</strong>r comunista histórico no<br />

nosso país, dizer que “estamos no governo, só nos falta o po<strong>de</strong>r. Jamais <strong>um</strong><br />

militar se levantará contra nós. Tentem pra ver a reação a qualquer<br />

golpe!”. Fodido foi o adjetivo usado por Campos para avaliar a situação <strong>de</strong>le<br />

a partir <strong>de</strong> então. “Eu vi que o golpe ia acontecer”.<br />

No dia 31 <strong>de</strong> março, a população carcerária do Dops a<strong>um</strong>entou e<br />

todos tiveram que ser levados à Invernada da Olaria. Campos foi sem saber<br />

se ia voltar vivo. A Invernada é <strong>um</strong> lugar do qual até hoje não se sabe<br />

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