editorial protagonistas de um passado histÃ³rico recente: lutas

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familiares 12 que dominam os meios de comunicação no Brasil. Dessa forma, os discursos da elite empresarial e política são preponderantes nesses meios, que também não refletem a pluralidade das vozes da sociedade, nem a diversidade cultural existente no país. Indo de encontro a essa lógica, as associadas à Rede de Mulheres no Rádio facilitavam o acesso do público feminino aos programas. A população podia, inclusive, produzir suas notícias, divulgá-las no ar e na internet. Para o Cemina 13 , o formato do rádio 14 facilita a inserção das mulheres, uma vez que une oralidade com tecnologia e abre possibilidades para, dependendo do uso, democratizar a transmissão e facilitar a interlocução e a recepção, por conta da troca de informações através das ondas eletromagnéticas. O rádio é um meio particularmente adequado para tal, na medida em que utiliza uma tecnologia de baixos custos de produção e distribuição. Como é um meio auditivo, não exclui os que não sabem ler nem escrever, sendo transmitido freqüentemente nas línguas locais da comunidade. Por essas razões, o rádio tem penetrado no mundo, mesmo nas áreas mais remotas e continua a ser o veículo de maior audiência no Brasil (CEMINA, 2002). A Voz Feminina Ecoando na Mata Sul Veículo de comunicação imediato, o rádio se apresentava como ideal para o estabelecimento de uma comunicação direta e democrática entre o movimento feminista e a população da Zona da Mata Sul 15 de Pernambuco 16 12 Nos anos 1990, cerca de nove grupos de empresas familiares controlavam a grande mídia nacional no Brasil. As famílias eram Abravanel (SBT), Bloch (Manchete), Civita (Editora Abril), Frias (Folha de S.Paulo), Levy (Gazeta Mercantil), Marinho (Organizações Globo), Mesquita (O Estado de S.Paulo), Nascimento Brito (Jornal do Brasil) e Saad (Rede Bandeirantes). Hoje esse número está reduzido a cinco. As famílias Bloch, Levy, Nascimento Brito e Mesquita já não exercem mais o controle sobre seus antigos veículos. 13 Disponível em: http://amora.rits.org.br/cemina/html/subcapII6.html. Acesso em: 19 mar. 2005. 14 Uma pesquisa da revista "Meio e Mensagem" n. 46, de 13/04/98, estimou que, naquela época, funcionavam perto de 2.500 emissoras no Brasil, sendo 75% delas em FM e as demais em AM. 15 Região atravessada por conflitos de ordem social, cultural, política e econômica, tais como a crise da cultura canavieira e a imposição histórica do patriarcado como 11
nos anos 1990. Uma mídia de fácil acesso e com poder de penetração em todas as instâncias sociais. Além disso, a mobilidade e a interatividade do rádio permitiam que as mulheres acompanhassem a programação sem deixar suas atividades diárias, quer no espaço doméstico, quer no local de trabalho. Com base nesses dados, os grupos femininos de Água Preta, Joaquim Nabuco, Catende e Palmares e o Centro das Mulheres do Cabo 17 realizaram, entre 1995 e 1997, cinco oficinas, envolvendo 60 mulheres dos municípios. Os encontros deram origem a um plano de comunicação com foco no rádio. O objetivo era estimular a troca de informações entre as mulheres e a divulgação dos seus direitos para a população. O projeto foi apresentado à Fundação MacArthur 18 , que aprovou a iniciativa e, em março de 1997, ia ao ar, pela primeira vez, o Rádio Mulher: o programa radiofônico do Centro das Mulheres do Cabo, com linha editorial feminista, produzido em parceria com os grupos de mulheres da região. Veiculado inicialmente pela Rádio Cultura dos Palmares (AM), aos sábados, o programa nasceu para difundir informações qualificadas sobre saúde, direitos reprodutivos e cidadania feminina. Produção, parte técnica, apresentação, locução, direção... Tudo no Rádio Mulher é realizado por mulheres. Essa especificidade levou o programa a integrar a Rede Brasileira de Mulheres no Rádio, em 1999. A partir daquele ano, o Rádio Mulher passa a ser exibido ao vivo. De acordo com os relatórios técnicos do projeto, a mudança possibilitou maior empatia com o público, que se manifestou enviando cartas e recados para a produção. Antes de implementar o formato, o Centro das Mulheres do Cabo promoveu uma série de oficinas de qualificação técnica e linguagem forma de organização que agudiza a subordinação das mulheres, a Zona Mata Sul é um campo de batalha onde diversos sujeitos coletivos disputam a hegemonia. Entre eles, as mulheres organizadas, que surgem, a partir dos anos 1990, como uma força capaz de provocar rachaduras na sólida construção do machismo e do patriarcado. 16 De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/1995), quase 60% das mulheres da Mata Sul eram analfabetas. 17 ONG feminista fundada em 1984, situada no Cabo de Santo Agostinho, e cuja missão é: “construir a eqüidade de gênero e afirmar os direitos de cidadania das mulheres”. 18 Agência de cooperação internacional com sede em Chicago, nos EUA. 12
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