editorial protagonistas de um passado histórico recente: lutas
editorial protagonistas de um passado histórico recente: lutas
editorial protagonistas de um passado histórico recente: lutas
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Essa “autonomia relativa” apontada por Bourdieu é maior ou menor<br />
a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do “papel <strong>de</strong>terminante que (o campo) <strong>de</strong>sempenha na<br />
reprodução social” (2007, p. 251). No caso do campo jurídico, por exemplo,<br />
essa autonomia relativa é bastante limitada. “Quer isto dizer que as<br />
mudanças externas nele se retraduzem mais diretamente e que os conflitos<br />
internos nele são mais diretamente resolvidos pelas forças externas” (2007,<br />
p. 251). Como no mundo externo ao campo jurídico existem forças<br />
hegemônicas 66 , elas terminam por conduzir as posições consagradas<br />
relevantes no interior do campo. Visto que essas forças hegemônicas assim<br />
o são porque relacionadas às classes dominantes:<br />
Segue-se daqui que as escolhas que o corpo (jurídico)<br />
<strong>de</strong>ve fazer, em cada momento, entre interesses,<br />
valores e visões <strong>de</strong> mundo diferentes ou antagonistas<br />
têm poucas probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfavorecer os<br />
dominantes, <strong>de</strong> tal modo o etos dos agentes jurídicos<br />
que está na sua origem e a lógica imanente dos textos<br />
jurídicos que são invocados tanto para os justificar<br />
como para os inspirar estão a<strong>de</strong>quados aos interesses,<br />
aos valores e à visão do mundo dos dominantes.<br />
(BOURDIEU, 2007, p. 242).<br />
Não se quer com isso dizer que o direito seja mero reflexo das<br />
estruturas econômicas e das relações <strong>de</strong> classe. Não o é. Sua autonomia<br />
relativa contraria tal refletivida<strong>de</strong>. Não seria possível dissimular arbitrários e<br />
dar cabo <strong>de</strong> hegemonias se as relações <strong>de</strong>siguais presentes na socieda<strong>de</strong><br />
estivessem <strong>de</strong> pronto refletidas no direito. Mas o direito, assim como o<br />
Estado, é sim instr<strong>um</strong>ento “para a<strong>de</strong>quar a socieda<strong>de</strong> civil à estrutura<br />
econômica”. Acontece que “o Estado <strong>de</strong>ve ‘querer’ fazer isto, ou, em outras<br />
palavras o Estado <strong>de</strong>ve ser dirigido pelos representantes da modificação<br />
ocorrida na estrutura econômica” (GRAMSCI, 1966, p. 306).<br />
É só notar a “bancada do latifúndio midiático” no Congresso<br />
Nacional brasileiro para perceber que os/as representantes das classes<br />
dominantes e dos meios <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa lá estão dirigindo a<br />
produção legislativa. Além disso, não é difícil reconhecer que os/as<br />
66 “La hegemonía es esto: capacidad <strong>de</strong> unificar a través <strong>de</strong> la i<strong>de</strong>ología y <strong>de</strong> mantener unido un bloque<br />
social que, sin embargo, no es homogéneo, sino marcado por profundas contradicciones <strong>de</strong> clase. Una<br />
clase es hegemónica, dirigente y dominante, mientras con su acción política, i<strong>de</strong>ológica, cultural, logra<br />
mantener junto a sí un grupo <strong>de</strong> fuerzas heterogéneas e impi<strong>de</strong> que la contradicción existente entre estas<br />
fuerzas estalle, produciendo una crisis en la i<strong>de</strong>ología dominante y conduciendo a su rechazo, el que<br />
coinci<strong>de</strong> con la crisis política <strong>de</strong> la fuerza que está en el po<strong>de</strong>r” (GRUPPI, 1978).<br />
57