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editorial protagonistas de um passado histórico recente: lutas

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68 foi con<strong>de</strong>nado a seis anos <strong>de</strong> prisão. Mas aí <strong>um</strong> amigo arranjou-lhe <strong>um</strong><br />

doc<strong>um</strong>ento falso e Iberé foi viver em Feira <strong>de</strong> Santana até 1980.<br />

Escon<strong>de</strong>r-se da repressão talvez fosse possível, mas não do<br />

conservadorismo familiar. Em Flores, todos perguntavam o que <strong>um</strong>a moça<br />

como Delzuite estaria fazendo com Freire. “Era <strong>um</strong>a ladainha, <strong>um</strong><br />

sofrimento terrível, <strong>um</strong>a tortura, mas eu tinha que salvar Freire. Não era<br />

tanto por mim, eu era novata”, que era acusada apenas <strong>de</strong> agitação: “n<strong>um</strong><br />

comício que eu fiz na Paraíba instiguei o pessoal a matar os usineiros que<br />

iam colocar chocalho no pescoço do camponês”. Freire já estava sendo<br />

procurado a pente fino – as Ligas Camponesas foi <strong>um</strong> dos primeiros<br />

movimentos a se <strong>de</strong>sorganizar com o Golpe. Para protegê-lo, Delzuite<br />

inventou que os dois iam se casar. E qual a receita para se casar com <strong>um</strong><br />

comunista, tão querido pelo regime militar, naquela situação? Elementar.<br />

Arranje <strong>um</strong> doc<strong>um</strong>ento falso com o nome <strong>de</strong> Antônio Celestino. Arranje<br />

também <strong>um</strong> camponês, o Zacarias, que sirva como figurante na hora do<br />

casamento. E, claro, vista-se com véu e grinalda, como manda o figurino,<br />

no Palácio do Governo. “Pintei e bor<strong>de</strong>i pra salvar o Freire”. E foi mesmo?<br />

O casal não teve muito tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso. Uma irmã foi <strong>de</strong><br />

Jaboatão a Flores para lhe contar a boa nova: procurando por Delzuite,<br />

militares tinham invadido a casa da família. Deram três dias para que ela se<br />

apresentasse, caso contrário, quem seria levada era a mãe. “Fiquei com<br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> voar que nem <strong>um</strong> passarinho, pra dizer que minha mãe não<br />

tinha nada a ver com aquilo, que eu vinha me apresentar”. Freire fica<br />

pensando que iam torturar a mulher para conseguir informações sobre ele.<br />

Delzuite vai dando graças a Deus porque estavam procurando a ela e não<br />

ao marido.<br />

Três militares. “Nunca lhe <strong>de</strong>ram metralhadora? Prometeram a você<br />

<strong>de</strong> tomar conta <strong>de</strong> <strong>um</strong> estado?”. Delzuite passava incól<strong>um</strong>e. Mas aí <strong>um</strong> dos<br />

interrogadores apareceu com <strong>um</strong>a carta que ela havia escrito a <strong>um</strong>a<br />

companheira <strong>de</strong> luta. “Que tarefa é essa aqui que você disse que c<strong>um</strong>priu?”<br />

Era <strong>um</strong>a criança com início <strong>de</strong> catarata que Delzuite levou ao hospital para<br />

ser internada. E era verda<strong>de</strong>. Só que havia <strong>um</strong>a frase <strong>de</strong> teor, digamos,<br />

complicador. “Ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil? Que pátria livre é<br />

essa que você quer? A sua pátria tá sendo atacada por quem?”. Resposta:<br />

“quando a gente se forma no colégio, o primeiro hino que a gente canta é<br />

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