editorial protagonistas de um passado histórico recente: lutas
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Paraíba, Pernambuco e Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. “Dormíamos vestido, pronto pra<br />
sair a qualquer hora. Viver sob pressão é normal. (...) A vida da gente era<br />
viajar o país todo, e saíamos do país quando a repressão a<strong>um</strong>entava.<br />
Vivíamos <strong>um</strong>a vida simples na periferia, passando fome, rodando o<br />
mimeógrafo a noite toda, distribuindo jornal. Não tinha tempo pra se<br />
arrepen<strong>de</strong>r. E a gente ia tendo cuidado pra não ter filho. Minha mãe ficava<br />
louca, porque entravam sistematicamente em casa, faziam ameaças”. As<br />
famílias já não mantinham os filhos sob controle. Eles saiam <strong>de</strong> casa ainda<br />
novos, e voltavam 10 ou 20 anos <strong>de</strong>pois.<br />
A volta pra casa se <strong>de</strong>u <strong>um</strong> pouco mais cedo, em setembro <strong>de</strong> 73.<br />
Fugindo da repressão, Campos <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> se escon<strong>de</strong>r na casa da irmã em<br />
Cabe<strong>de</strong>lo, na Paraíba, e acaba sendo <strong>de</strong>latado. Seu pai era maçon, e<br />
conseguiu proteção para o filho. Um bom advogado conseguiu <strong>um</strong>a pena 3<br />
anos e 6 meses no lugar da soma <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nações em todos os estados: 22<br />
anos. “Fui preso na Penitenciária Mo<strong>de</strong>lo da Paraíba, o único preso político.<br />
A maçonaria me colocou na prisão especial com <strong>um</strong> playboy que assassinou<br />
<strong>um</strong> cara estupidamente a troco <strong>de</strong> nada, três policiais ligados ao grupo <strong>de</strong><br />
extermínio dos latifundiários, <strong>um</strong> psicopata que matou <strong>um</strong> cara com<br />
requintes <strong>de</strong> cruelda<strong>de</strong> por causa <strong>de</strong> dinheiro. Ficar com essa gente não era<br />
coisa boa. Ouvir o cabo Chiquinho contar como ele trucidou a li<strong>de</strong>rança<br />
camponesa, pessoas que eu conhecia, como pren<strong>de</strong>u, torturou, matou... Aí<br />
eu olho lá pra baixo, tem <strong>um</strong> time <strong>de</strong> futebol”. Campos <strong>de</strong>cidiu falar com o<br />
superinten<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> justiça paraibano, que coinci<strong>de</strong>ntemente havia estudado<br />
no Liceu e o respeitava. Assim, Campos não só recebeu permissão para<br />
organizar <strong>um</strong> campeonato <strong>de</strong> futebol como também para alfabetizar os<br />
presos e ensiná-los a fazer artesanato.<br />
Enquanto isso, Delzuite e Celestino (ex-Freire) estavam no Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, engajados nos movimentos revolucionários e com dois filhos: <strong>um</strong><br />
nascido em 71 e outra em 74. Faziam artesanato a fim <strong>de</strong> arrecadar<br />
dinheiro para pagar advogados para os presos políticos, pichavam muros,<br />
escondiam companheiros. No primeiro semestre <strong>de</strong> 79, o casal participava<br />
ativamente <strong>de</strong> manifestações pró-anistia. Panfletando n<strong>um</strong>a <strong>de</strong>las,<br />
<strong>de</strong>sconfiaram que estivessem sendo seguidos. De volta para casa no ônibus,<br />
<strong>um</strong>a parada brusca. Sobem quatro homens que pediram os doc<strong>um</strong>entos <strong>de</strong><br />
i<strong>de</strong>ntificação. Eles tomam os panfletos que Delzuite tinha e seguram-na pelo<br />
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