editorial protagonistas de um passado histórico recente: lutas
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AS RÁDIOS COMUNITÁRIAS E O DIREITO<br />
Roberto Cordoville Efrem <strong>de</strong> Lima Filho 65<br />
1. Introdução: o que cabe ao direito.<br />
Cost<strong>um</strong>a-se esperar <strong>de</strong> <strong>um</strong>(a) “operador do direito”, o olhar jurídico<br />
sobre <strong>de</strong>terminado assunto. Elege-se <strong>um</strong> problema e pergunta-se ao/à<br />
jurista: mas então, qual é a visão do direito? Daí normalmente vem <strong>um</strong>a<br />
resposta repleta <strong>de</strong> sentimento <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> que muito provavelmente é<br />
aceita. Afinal a quem, se não ao/à jurista, po<strong>de</strong> competir manejar os<br />
institutos jurídicos, os princípios do direito, a arg<strong>um</strong>entação baseada em<br />
normas e, por fim, revelar a verda<strong>de</strong> do direito?<br />
Afirmo, <strong>de</strong> antemão, que <strong>de</strong> mim não se <strong>de</strong>ve esperar tamanha<br />
função. Primeiro porque não creio ser ela alcançável, nem <strong>de</strong>sejável. Direito<br />
é i<strong>de</strong>ologia, política. É algo construído no mundo, por gente, nada tendo <strong>de</strong><br />
natural. É histórico, mutável. Qualquer leitura que <strong>de</strong>le seja feita é <strong>um</strong>a<br />
interpretação, “<strong>um</strong>a” diante <strong>de</strong> outras possibilida<strong>de</strong>s. Segundo porque não é<br />
bem por ser “<strong>um</strong> jurista” que estou a escrever este texto. Por certo meus<br />
poucos estudos no direito venham a contribuir para o reconhecimento, no<br />
interior do campo jurídico, do meu lugar <strong>de</strong> fala. Mas <strong>de</strong>finitivamente não<br />
são esses conhecimentos as raízes <strong>de</strong> minha escrita. Escrevo porque sou<br />
<strong>um</strong> militante, porque <strong>de</strong>fendo alguns interesses e sujeitos, porque explicito<br />
que tenho <strong>um</strong> lado no mundo.<br />
A<strong>de</strong>mais, escrevo porque julgo ser isso ciência e que ciência longe<br />
<strong>de</strong> pressupor neutralida<strong>de</strong>, requer sincerida<strong>de</strong>. Tomo emprestado <strong>de</strong><br />
Antônio Gramsci (1966, p. 12) a expressão “concepção <strong>de</strong> mundo” para<br />
tentar explicar o que quero dizer. Segundo o marxista italiano somos<br />
sempre “homens-coletivos” e “mulheres-coletivas”. Isso porque partilhamos<br />
<strong>um</strong>a linguagem, “que é <strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong> conceitos <strong>de</strong>terminados e não <strong>de</strong><br />
65 Roberto Cordoville Efrem <strong>de</strong> Lima Filho é estudante do curso <strong>de</strong> mestrado do Programa <strong>de</strong> Pósgraduação<br />
em Direito da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco. É militante do NAJUP – Núcleo <strong>de</strong><br />
Assessoria Jurídica Popular – Direito nas Ruas e do MNDH – Movimento Nacional <strong>de</strong> Direitos H<strong>um</strong>anos,<br />
em Pernambuco.<br />
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