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editorial protagonistas de um passado histórico recente: lutas

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pra morrer atropelada que nem ele. Mas aí eu olhava minha menina [a<br />

filha]. Dava murro nas pare<strong>de</strong>s. Pra ele chegar na 7ª serie, eu tomava livro<br />

emprestado, tirava xerox. Comprava roupa a prazo, sapato <strong>um</strong>a vez por<br />

ano. Uma dificulda<strong>de</strong> pra criar meu filho, <strong>de</strong> repente <strong>um</strong> professor bêbado<br />

atropela ele”? Porém, Delzuite constata que sempre é tempo <strong>de</strong> ser forte.<br />

“Alg<strong>um</strong>a frustração? Gostaria <strong>de</strong> tocar viola (risos)”.<br />

Iberé não teve frustrações e sim perdas. Voltou a estudar Economia<br />

em 80 e se formou aos 50 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Não po<strong>de</strong> fazer carreira<br />

acadêmica, como tanto queria, e foi trabalhar na administração da UFPE até<br />

97. “Mas fui autêntico, me ofereci pra fazer as coisas. Não <strong>de</strong>pendia só <strong>de</strong><br />

mim. Nosso inimigo era muito maior do que a gente pensava. Eu po<strong>de</strong>ria<br />

ter tudo e dizer: ‘poxa, fui apenas <strong>um</strong>a bazófia, apenas <strong>um</strong> cara que correu<br />

atrás <strong>de</strong> <strong>um</strong> salário, comprou, comeu, bebeu e vestiu’. A maioria das<br />

pessoas não passa disso, não pensam que o mundo <strong>de</strong>ve mudar”.<br />

Momesso realmente não se arrepen<strong>de</strong>u. Em 94 veio para o Recife<br />

(“não agüentava mais São Paulo, era muito <strong>de</strong>s<strong>um</strong>ano”) trabalhar no<br />

Departamento <strong>de</strong> Comunicação da UFPE. Sonhos são <strong>um</strong>a das poucas<br />

sequelas que restaram: “Durante muito tempo me acor<strong>de</strong>i assustado com<br />

barulho <strong>de</strong> carro à noite. Hoje eu sinto <strong>um</strong> pouco <strong>de</strong> claustrofobia, mas eu<br />

consigo me dominar. Ainda encarei militar como inimigo. Leva <strong>um</strong> tempo<br />

pra você aceitar que existem os honestos. Ainda não tive tempo para<br />

apren<strong>de</strong>r tocar viola”.<br />

Campos também tem sonhos. N<strong>um</strong> <strong>de</strong>les não consegue fugir <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong>a casa cercada. No outro, <strong>de</strong>ve sair da cida<strong>de</strong> dirigindo <strong>um</strong> ônibus, mas<br />

não consegue. Infelizmente, outras sequelas mais sérias restaram: foi<br />

<strong>de</strong>pressivo crônico, superando o problema com três anos <strong>de</strong> tratamento.<br />

Hoje é portador <strong>de</strong> leucemia crônica, doença em que a medula óssea produz<br />

células ininterruptamente, mas que são incapazes <strong>de</strong> se diferenciar em<br />

células <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa. Assim, o organismo fica sem proteção e <strong>um</strong>a gripe po<strong>de</strong><br />

se tornar <strong>um</strong> perigo. É também estressado crônico. Tudo isso apareceu em<br />

85, o ano em que a Ditadura acabou. “Quando você sente que terminou,<br />

seu organismo relaxa e abre todas as guardas. Tudo aquilo que tava sendo<br />

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