editorial protagonistas de um passado histórico recente: lutas
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PROTAGONISTAS DE UM PASSADO HISTÓRICO RECENTE: LUTAS E<br />
VISÕES DE UMA CRENÇA EM UM MUNDO MAIS JUSTO<br />
* Dacier Barros e Silva<br />
** Cecília Santana<br />
“Meus colegas não se conformam <strong>de</strong> eu dizer que nós per<strong>de</strong>mos a<br />
guerra. Eles dizem: ‘não, nós per<strong>de</strong>mos a batalha!’. Nada disso, nós<br />
per<strong>de</strong>mos a guerra. Eu sou talvez o único que tenha a coragem <strong>de</strong> dizer.<br />
Não existe mais socialismo nenh<strong>um</strong>. Pra tudo tem <strong>um</strong> tempo. A pregação<br />
do século XX não po<strong>de</strong> ser a do XXI. Não é que eu abdiquei das minhas<br />
idéias. Faça <strong>um</strong> teste por aí com esse pessoal que se diz <strong>de</strong> esquerda. Qual<br />
<strong>de</strong>les é <strong>de</strong> fato?”. Prestes a completar 75 anos, Iberé Baptista bate na<br />
mesa. Gesticulando muito, mantinha <strong>um</strong> olho na conversa e outro na água<br />
do café que fervia na cozinha. Talvez tão elétrico e ativo quanto em 25 <strong>de</strong><br />
novembro <strong>de</strong> 1964. A entrevista, feita no dia 26, foi <strong>um</strong>a espécie <strong>de</strong><br />
comemoração dos 44 anos <strong>de</strong> sua prisão. Motivo: subversão e corrupção.<br />
Ouvindo-se a exteriorização <strong>de</strong>ste sentimento, às vezes parece ser<br />
exótico ainda encontrar pessoas fiéis a i<strong>de</strong>ologias que resgatam a crença<br />
n<strong>um</strong> mundo mais justo, n<strong>um</strong> mundo on<strong>de</strong> se transita com tanta facilida<strong>de</strong><br />
ausente da conotação <strong>de</strong> antagonia entre discursos e práticas opostos.<br />
Iberé se <strong>de</strong>fine como “agnóstico, materialista da cabeça aos pés”, e tudo<br />
isso com orgulho e segurança <strong>de</strong> si próprio. Mesmo para aqueles que<br />
nasceram n<strong>um</strong>a época em que os países socialistas já não existem mais –<br />
ou que ao menos se mostram como <strong>um</strong>a experiência fracassada, a exemplo<br />
<strong>de</strong> Cuba – não se po<strong>de</strong> negar a importância da contribuição <strong>de</strong>sses<br />
“subversivos”. A doutrina que os guiou não fala, hoje, mais alto do que a<br />
condição <strong>de</strong> eterno militante social. São décadas <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong><br />
vida que Iberé, Luiz Momesso, Antonio <strong>de</strong> Campos e Delzuite da Costa Silva<br />
<strong>de</strong>dicam a <strong>um</strong>a crença n<strong>um</strong> país mais justo.<br />
Todos eles tinham <strong>um</strong>a “vocação” para se incomodar com a<br />
situação precária na qual o povo brasileiro estava, e ainda está. De classe<br />
média, camponeses ou <strong>de</strong> bairros pobres dos centros urbanos, tiveram sua<br />
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