15.10.2014 Views

editorial protagonistas de um passado histórico recente: lutas

editorial protagonistas de um passado histórico recente: lutas

editorial protagonistas de um passado histórico recente: lutas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

mão na cabeça. Me moendo por <strong>de</strong>ntro, mas [para eles era] como se<br />

estivesse longe”.<br />

“Não sei quanto tempo fiquei lá porque a gente per<strong>de</strong> a noção. As<br />

forças foram s<strong>um</strong>indo. Chegou <strong>um</strong> momento em que eu pensei que ia<br />

morrer. Não tinha mais corpo, só tinha consciência. Cabeça pendurada, não<br />

me mexia mais nem nada. Era muito triste porque eu queria viver, queria<br />

continuar na luta. Não morri né?”.<br />

Não, e não por acaso está aí até hoje. Devolveram-no à cela.<br />

Fernando Gabeira, no livro O que é isso, companheiro?, escreveu <strong>um</strong><br />

parágrafo sobre o que percebeu <strong>de</strong> Momesso. “[Ceará, nome <strong>de</strong> guerra<br />

<strong>de</strong>vido ao lugar da prisão] dizia que perguntava coisas que <strong>de</strong>sconhecia,<br />

mas que <strong>de</strong> qualquer forma não revelaria nada, mesmo se soubesse. Dizia<br />

com convicção tão h<strong>um</strong>il<strong>de</strong>, tão pouco preocupada com a platéia, que tenho<br />

absoluta certeza que <strong>de</strong>le não arrancariam anda. Quantos não prometem<br />

mundos e fundos e <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> c<strong>um</strong>prir? Ceará apenas voltava da tortura,<br />

baixava as calças, ficava <strong>de</strong> barriga para o chão e continuava a conversar<br />

conosco, como se tivesse estado sempre ali, naquela posição”. Momesso<br />

explicou que isso acontecia porque ele não revelava nada a ninguém. E se<br />

os presos fossem obrigados a contar algo mediante tortura? Ele <strong>de</strong>veria<br />

confiar? “Eu era <strong>um</strong>a incógnita”. As marcas do sofrimento passaram –<br />

porque a tortura era superficial, não <strong>de</strong>ixava rastros – e Momesso não mais<br />

foi chamado para outras sessões. Levaram-no para <strong>um</strong> <strong>de</strong>scampado,<br />

<strong>de</strong>ixando-o com <strong>um</strong> carcereiro, que insinuava que po<strong>de</strong>ria fugir. “Eles<br />

querem que eu saia correndo, aí eles metem bala. Vi vários casos assim. O<br />

cara tava preso e <strong>de</strong>pois saía na imprensa que morreu em tiroteio com a<br />

polícia. Me <strong>de</strong>u <strong>um</strong>a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar <strong>um</strong> safanão naquele cara, mas eu tive<br />

que me segurar (risos)”. Esse “sequestro” durou <strong>um</strong> mês. De lá, Momesso<br />

foi c<strong>um</strong>prir sua antiga pena <strong>de</strong> seis meses no Presídio Tira<strong>de</strong>ntes na capital<br />

paulista. Três dias <strong>de</strong>pois da soltura já tinha <strong>um</strong>a reunião com a AP.<br />

Enquanto isso, Iberé continuava na clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> em Feira <strong>de</strong><br />

Santana, trabalhando como <strong>de</strong>senhista <strong>de</strong> construções. Sentiu falta da<br />

militância “porque é como se você tivesse n<strong>um</strong> canto, vendo a história<br />

passar, sabendo que alg<strong>um</strong>a coisa tem que ser feita”.<br />

Enquanto isso, Campos colecionava nomes <strong>de</strong> guerra (André,<br />

Alberto, Joaquim e Paulo) e <strong>de</strong>cretos <strong>de</strong> prisão no Rio <strong>de</strong> Janeiro, São Paulo,<br />

109

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!