editorial protagonistas de um passado histórico recente: lutas

aço. “Aí Freire veio me defender e avançaram nele. Quando deram um
soco no estômago, ele começou a ficar roxo, querendo falar e sem poder.
‘Socorro, assassinos! Vocês tão matando meu companheiro, vocês mataram
ele’! Aí mandaram o motorista parar e eles empurraram a gente. Freire já
caiu praticamente morto”.
Delzuite conseguiu uma carona para um hospital e viu Freire dar
seu último suspiro.
O médico deu o diagnóstico: infarto fulminante. “Entrou na minha cabeça
uma névoa que eu não sabia quem eu era, não sabia o que fazer. Voltei pra
casa e abracei os meninos. Eu só queria sair de lá morta, junto com as
crianças. Fiquei com meus filhos esperando o pior”.
Naquele momento havia no Brasil cerca de 200 presos políticos e cerca de
10 mil exilados. A meta da repressão de acabar com todas as lideranças
acabou se concretizando para Freire a pouco tempo de sair a anistia.
“A Ditadura cai de podre”.
Ao sair da prisão, em 76, Campos já tinha 32 anos. Decidiu estudar
Economia e começou a trabalhar no Bandepe. Até o ano de 79, em todas as
sextas-feiras, ele tinha de assinar um livro dizendo se permaneceria o fim
de semana no Recife ou se iria a João Pessoa. Não podia voltar a uma
militância radical e correr o risco de ser preso novamente: já era casado e
ia ter um filho. Depois da anistia quebram-se as amarras: Campos não se
aliou a nenhum partido, porém passou a integrar a oposição bancária de
esquerda do Bandepe, e lutou durante alguns anos para derrubar os
pelegos. “Me senti livre”.
Delzuite agora poderia voltar para Jaboatão, para a família. Só que
a história foi diferente para ela. Quando Freire morreu, “fiquei esperando o
terceiro filho, grávida de dois meses. De vez em quando sentia dores
horríveis, começava a soluçar quando vinha a dor moral, aquilo era ruim
pro bebê. Numa tarde o bebê nasceu prematuro de 8 meses e não resistiu.
Era a cara dele [de Freire]. Eu era doida pra que sobrevivesse”.
Momesso continuou na luta. Desligou-se da AP, voltou aos
movimentos populares em bairros de São Paulo e formou-se em Jornalismo.
111