editorial protagonistas de um passado histórico recente: lutas
editorial protagonistas de um passado histórico recente: lutas
editorial protagonistas de um passado histórico recente: lutas
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
passava o domingo inteiro na rua, visitando operário, visitando casa,<br />
fazendo reuniões, e voltava pra trabalhar direto das seis da noite até as seis<br />
da manhã da segunda” ou então ajudando alg<strong>um</strong> companheiro a construir<br />
sua casa. Tinha facilida<strong>de</strong> para escrever e realizava ativida<strong>de</strong>s relacionadas<br />
à comunicação. Mudou-se para Mauá em 67, morando na mesma casa que<br />
Betinho, o sociólogo e ativista dos direitos h<strong>um</strong>anos, durante seis meses.<br />
Trabalhavam com jovens. Momesso <strong>de</strong>ixou a cida<strong>de</strong>, mas sob o comando <strong>de</strong><br />
Betinho ainda ficou Raimundo Eduardo da Silva, que foi assassinado sob<br />
tortura. “Foi a primeira vez que eu senti o choque do que era a repressão.<br />
Mais tar<strong>de</strong>, em 91, quando eu fui visitar Betinho, a primeira coisa que ele<br />
me falou é que ainda carregava <strong>um</strong> <strong>de</strong>funto nas costas”.<br />
A primeira vez que teve <strong>de</strong> encarar <strong>de</strong> perto a repressão chegou em<br />
68. Momesso foi preso em flagrante, distribuindo folhetos em apoio à greve<br />
dos metalúrgicos <strong>de</strong> Osasco, e levado ao Dops. “Eles ficaram muito danados<br />
da vida porque o folheto, além <strong>de</strong> apoiar a greve, tinha <strong>um</strong>a frase que eu vi<br />
que eles sublinharam que dizia que só a greve não ia resolver, que era<br />
necessário preparar a luta armada. Fiquei três dias preso, <strong>um</strong>as porradas,<br />
costela quebrada, <strong>um</strong>as bobagens”. Para ser solto, <strong>um</strong> padre, companheiro<br />
das <strong>lutas</strong>, arranjou <strong>um</strong> bispo, que lhe passou <strong>um</strong> sermão diante do<br />
carcereiro, que era ligado à Igreja. Foi julgado à revelia e con<strong>de</strong>nado a seis<br />
meses <strong>de</strong> prisão. É claro que Momesso não se entregou. Vivia n<strong>um</strong><br />
esquema <strong>de</strong> troca constante <strong>de</strong> en<strong>de</strong>reços e não abandonaria a luta. E a<br />
“bobagem” era em comparação ao que viria pela frente.<br />
A essa altura, o Ato Institucional número cinco (AI-5), que dava<br />
po<strong>de</strong>res absolutos ao Regime Militar, tinha sido <strong>de</strong>cretado em <strong>de</strong>zembro do<br />
mesmo ano. Um gole <strong>de</strong>ntro do golpe, criando <strong>um</strong> Estado <strong>de</strong> exceção que<br />
eliminava qualquer resquício <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia. Do fechamento do Congresso<br />
Nacional, passando pela suspensão do direito <strong>de</strong> fazer reuniões <strong>de</strong> cunho<br />
político à censura, o pau ia comer. Diante da radicalização do governo, a<br />
maioria dos partidos <strong>de</strong> esquerda começaram a ver na luta armada a única<br />
solução. “A gente tinha <strong>um</strong>a perspectiva não muito distante <strong>de</strong> fazer a<br />
revolução” e a AP ass<strong>um</strong>e a linha maoísta – luta armada a partir do campo.<br />
Por isso, Momesso foi enviado ao Nor<strong>de</strong>ste.<br />
O preparo começou com estudos sobre estratégia e tática e sobre<br />
os movimentos <strong>de</strong> resistência brasileiros, a exemplos dos cangaceiros, da<br />
105