11.07.2015 Views

E7s6Xi

E7s6Xi

E7s6Xi

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Rachel Gouveia PassosAssim, com o processo de Reforma PsiquiátricaBrasileira (RPB), os sujeitos outrora no manicômio –mesmo nos casos de abandono de muitos anos porsuas famílias – em tese, vão ser acompanhados poruma equipe multidisciplinar em um dos dispositivossubstitutivos, para poder “retomar” à sua cidadania,outrora colocada de lado e transferida para o Estado,considerando que esses sujeitos desprovidos de razãoestão impedidos de responder por si. Para Amarante eGuljor (2005:70), a desinstitucionalização vai implicar no“‘retorno’ dos sujeitos em sofrimento psíquico ao espaçode convívio social como parte integrante dessa sociedadee da construção de seu status de cidadão”.Entretanto, ao analisar o processo de cuidados, vejo,em muitos casos, a reprodução de outras formas de opressão,quando a garantia de sua proteção social é atribuídaàs famílias 1 . Além disso, mesmo diante dos diversos arranjosfamiliares na contemporaneidade, por usos e costumes, oresponsável pelo papel de cuidador será, com raras exceções,seu membro do sexo feminino. Não é tão somente no processode desinstitucionalização que as mulheres assumem essepapel: sua presença de cuidadora é reproduzida também nasinternações provisórias, nos centros de atenção psicossocial eem outros espaços de cuidados. As mulheres serão sempre contactadaspara responderem ao acompanhamento como familiardo usuário do serviço de saúde mental. O mesmo se dá com oscuidados das crianças na escola, dos idosos nos tratamentos desaúde, dos adultos que adoecem, ou seja, segundo Costa (2002),as práticas de proteção primária, em grande parte, ficam a cargodas mulheres, tornam-se naturais no âmbito das famílias e dosgrupos de convívio e se tornam ocultas. Nessas observações, nãoestou sendo contrária ao processo de desinstitucionalização ou àReforma Psiquiátrica, entretanto, estou procurando refletir sobrecostumes e práticas sociais que recriam clássicas formas de opressãofeminina nos hábitos de cuidados. Nessa experiência, dentre outras,acabamos atualizando essas formas, acreditando que estamos noslibertando delas. Claro que existem exemplos bem-sucedidos de cuidados.Mas, em geral, estamos diante de ocorrências que nos fazemperguntar: que cuidados são esses que desresponsabilizam o Estadoe que se transferem para as famílias, em tantos casos, também delesdependentes? E mais, se os cuidados dos doentes são transferidos paraas famílias, não estaríamos desresponsabilizando os indivíduos, e afirmandoa sua incapacidade? Não estaríamos, assim, adotando uma noção1Vasconcelos (2002) conceitua as práticas multidisciplinares como sendo a “gama de campos de saber que propomossimultaneamente, mas sem fazer parecer as relações existentes entre eles”, ou seja, são ações realizadasa partir de uma equipe composta de profissionais de múltiplas disciplinas, que constroem ações conjuntas apartir dos respectivos campos de saber.104

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!