Comunidades locais na Promoção da Saúde: reflexões em torno da implementação de medidas dedescentralização no sector rural de águas e saneamento em Moçambiquee simplificação de procedimentos. Deste modo, em2003 foi aprovada a Lei no 8/2003 5 , Lei dos ÓrgãosLocais do Estado (LOLE) onde foram estabelecidos osprincípios e normas de organização, competências efuncionamento dos Órgãos Locais do Estado nos escalõesde Província, Distrito, Posto Administrativo e deLocalidade. Por sua vez, o Decreto no11/2005, concebeprincípios de organização e funcionamento dos ÓrgãosLocais do Estado, nomeadamente a desconcentração ea desburocratização administrativas que visa o descongestionamentodo escalão central e a aproximação dosserviços públicos à população. De referir ainda, que o mesmoDecreto consagra o distrito como a unidade territorialprincipal da organização e funcionamento da administraçãolocal do Estado e base de planificação e de desenvolvimentoeconómico, social e cultural.Deste modo, na função atribuída ao Distrito se enquadraa participação dos cidadãos, das comunidades locais, dasassociações e de outras formas de organização, que tenhampor objectivo a defesa dos seus interesses, na formação dasdecisões que lhes dizem respeito, (Título 8, Artigo 99 da LOLE).Mais adiante, o artigo 109 define as formas de organizaçãocomunitária em Conselho Local, Fórum Local, Comités Comunitáriose Fundos Comunitários.É neste contexto que surgem os Comités de Gestão de Águae Saúde nas comunidades que são chamados a desempenhar e aassumir um papel relevante na responsabilização pela facilitação,planeamento, gestão dos fundos de investimento e supervisão deactividades no sector de águas e saneamento do meio. De referirque o Manual de Implementação de Projectos de Abastecimentode Água Rural (MIPAAR, 2008) reforça o envolvimento das comunidadesem todo o processo de provisão do abastecimento deágua rural como sendo determinante para a sustentabilidade dasinfra-estruturas. Ademais, a participação da comunidade na tomadade decisões é considerada fundamental para garantir o sucessodos projectos e estimular o desenvolvimento local. Assim, torna-serelevante questionar: em que medida as reformas, estratégias e programasque se têm vindo a implementar de forma a expandir a redede acesso à água e saneamento se articulam com as acções locais quevisam promover a saúde da comunidade? Não menos importante, deque depende a eficácia da implementação das iniciativas de promoçãoda saúde da comunidade? Partimos do pressuposto de que a percepção5Neste cenário, o distrito é definido como unidade de planificação orçamental e se propõem um conjunto deacções visando estabelecer a capacidade institucional dos Governos locais. No que se refere ao campo da promoçãode saúde pública, foram criados os comités de gestão de água e saneamento bem como os comités desaúde nas comunidades locais.135
Rehana Dauto Capurchandeque as elites locais 6 têm sobre a necessidade e viabilidadedas iniciativas de implementação das medidasde descentralização no sector de águas é importantepara a eficácia das actividades de promoção da saúdee exercício dos direitos humanos em particular os docampo social. Pois, as elites locais controlam recursos eocupam lugares de comando e destaque e são salientesna influência de processos de formulação e implementaçãode políticas públicas ao nível da base. No casoespecífico, são as estruturas locais administrativas (asfiguras de Administrador do Distrito, Secretário Permanente,membros da Equipa Técnica Distrital); membros dosConselhos Consultivos Locais, as autoridades tradicionais,e todos os indivíduos influentes na comunidade, quer sejamno campo económico, cultural e político. Trata-se de actoreschave que exercem influências, detêm o poder simbólico 7e intervêm na formulação e implementação de actividadesde promoção da saúde.O Acesso à Água no meio Rural: desafios,oportunidadesCom a promulgação da Lei de Águas em 1995 e da PolíticaNacional de Águas (PNA) estabelece-se o quadro legal nosector de águas em Moçambique. De referir que ambos mecanismoslegais realçam o princípio de procura para o abastecimentode água às populações rurais bem como propiciam umaabordagem integrada de água e saneamento rural. As acçõesem torno da PNA priorizam a satisfação das necessidades básicasde abastecimento de água para o consumo, de forma consistentecom os Objectivos do Milénio, até 2015, que consistem em reduzirpara metade a proporção da população que não têm acesso àágua potável e saneamento adequado 8 . Por conseguinte, no que serefere ao acesso à água nas zonas rurais constitui como objectivo,alcançar uma cobertura de 70%, o que corresponde a servir cerca de11 milhões de pessoas de um total de aproximadamente 17 milhões6Entendidas como um grupo de pessoas que controlam recursos e ocupam lugares de comando e destaque eque são salientes na influência de processos de formulação e implementação de políticas ao nível loca. Trata--se de actores chave na formulação e implementação dessas mesmas políticas, sendo no caso específico, as dedescentralização de água e saneamento.7Entenda-se o poder simbólico na perspectiva de Bourdieu (1989), como um poder quase mágico que permiteobter o equivalente daquilo que é obtido pela força (física ou económica) graças ao efeito específico de mobilizaçãoque se exerce se for reconhecido. O poder simbólico se define numa relação determinada, entre os queexercem o poder e os que lhe estão sujeitos dentro da própria estrutura do campo em que se produz e se reproduza crença. O poder simbólico pressupõe, tal como as outras formas de poder, a existência de assimetriassociais, as quais ele acentua e, sobretudo, através das quais ele se desenvolve.8Fazem parte ainda os seguintes objectivos da PNA: (i) assegurar a sustentabilidade dos sistemas de água rural;(ii) garantir a adopção de práticas de higiene adequadas ao nível das famílias, comunidades e escolas; (iii)garantir a médio prazo que as comunidades servidas por um sistema de abastecimento de água seguro e fiáveltêm uma infraestrutura de saneamento adequada em cada casa; (iv) garantir a longo prazo o acesso universala um abastecimento de água seguro e fiável e um aumento do nível mínimo de serviço, bem como a coberturauniversal por soluções adequadas de saneamento rural, (Plano Estratégico do Sector de águas Rural- Água eSaneamento Rural, PESAR-ASR, 2007).136