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Rachel Gouveia Passoslevava diretamente à condenação. É porisso que todos os autores que se dirigiramàs mães acompanharam suas palavrasde homenagens e de ameaças. Durantetodo o século XIX, lançaram-se anátemasàs mães más. Desgraçada a mulher quenão ama seus filhos, exclama Brochard.Desgraçada aquela que não o amamenta,continua o doutor Gerard: ‘ela condena todasua descendência a males horríveis, cujasconsequências terríveis podemos apenasentrever: enfermidades incuráveis, como atuberculose, a epilepsia, o câncer e a loucura,sem contar todas as horríveis neuroses que tãocruelmente afligem a humanidade’.Pela sobrecarga dos cuidados em relação aos usuáriosde saúde mental, entende-se que as responsabilidades que“cabem” ao ideal da boa mãe e cuidadora poderão deixarde ser atendidas e, por isso, deslocá-la para o de “mãemá”. Não cumprir, pois, o papel idealizado de mãe significaculpabilizá-la por qualquer ação que possa gerar descuidosa um/a usuário/a; essa é uma forma de repressão à mesma.Nesse caso, ainda que a negligência em relação à cogestãodo cuidado por parte do Estado seja manifesta, afirma-se odescuido pelo fato de essa mulher ser uma mãe má; saem daítodos os embaraços seguintes. São muitos os indícios de que,nessas ações, o Estado segue tradições que culpabilizam a famíliae localizam, nas mulheres, a fragilidade da cogestão doscuidados como previsto em lei.Outro exemplo, porém distinto do anterior, é o caso de Ruth 7que, hoje, além de profissional de saúde, é militante da luta antimanicomial.Alguns meses depois de seu nascimento, sua mãe foiinternada em um hospital psiquiátrico. A causa foi relatada por umavizinha como tentativa de assassinato da filha, já que a mãe apresentavasensação de perseguição, delirium, agitação psicomotora. Era aprimeira vez que Odete fora internada, iniciando, assim, sua trajetóriapsiquiátrica. Negava-se a realizar o tratamento, o que cronificou seuquadro psíquico, prejudicando não só sua saúde mental, mas tambémsua vida social. A relação com a vizinhança era dura, já que era internadapelo menos duas vezes por mês. Foram longos anos convivendo com essaquestão, sendo Ruth a irmã mais velha de duas. O marido de Odete nãoaguentava por muito tempo esse sofrimento, o que fazia com que saíssede casa e deixasse as crianças com a mãe em crise. Ruth cresceu vendo amãe ser internada nos diversos hospitais do Rio de Janeiro. Era dolorosoe incompreensível para ela entender aquela situação que vivenciava. Porser a filha mais velha, foi pressionada pela família de Odete que, depoisde algum tempo, nem mesmo quis ter mais notícia dela, levando Ruth a7Nome fictício para preservar identidade da usuária e dos familiares. Os demais nomes aqui destacados tambémserão fictícios.116

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