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Lucia Rabello de Castroescravos. Nem a nossa república, tal como observamos historiadores e críticos, como Carvalho (1990), Telles(1996), Dagnino (2002) e outros, conseguiu estabeleceraqui um ideário de igualdade e práticas de equidade.Ou seja, nossa república não significou uma ruptura,um corte profundo nas nossas disposições societáriasperversas, injustas, desiguais e violentas. Pelo contrário,demos uma ‘roupagem’ política moderna a práticas antigase iníquas. A título da análise, ainda que esquemáticaque desejo construir, é que ao longo da nossa história,nem pela instauração do sistema político baseado nasgarantias individuais, conseguimos universalizar direitos,e neste sentido, fazer com que todos os brasileiros sejamde fato sujeitos de direitos.Dessa mui sumária esquematização histórica, decorremdois agravos: em primeiro lugar, permanece, em grandemedida, inalterada a situação de desigualdade dos que nãodetêm capital simbólico, cultural e material e possam disporde recursos para reverter sua posição de origem e seu destinosocial; em segundo lugar, para as crianças e jovens origináriasdos segmentos destituídos da sociedade brasileira, a situaçãode desigualdade torna-se pungente, na medida em que, alémda destituição material e simbólica, eles estão completamentesubmetidos e governados pelo poder do Estado e pelo poderparental.Para as crianças e jovens bem nascidos, seu destino socialestava assegurado e garantido pela própria reprodução societária.A continuidade da ordem social e a preservação de privilégiosde classe se asseguravam na medida em que as novas geraçõessubstituíam os mais velhos nas posições sociais desta sociedadeoligárquica. Neste sentido, o destino social das crianças e jovensbem nascidos pôde superar o imaginário da ‘descartabilidade’, umavez que a esse imaginário se sobrepôs o da ‘promessa’. Para essascrianças, então, a ‘promessa’ era de, eventualmente, se prepararpara, eventualmente, assumir a posição social parental assegurandoa divisão social do trabalho, e portanto, a permanência da ordemsocial. Então, gostaria de enfatizar, a ‘descartabilidade’ foi revertidapela promessa apenas em relação àqueles – crianças e jovens – emque se depositava a continuidade e a reprodução da sociedade. Paraesses, a promessa de virem a ser cidadãos futuros se materializou nascondições educacionais e sociais que passaram a usufruir, de modoque atingissem tais objetivos. Para todos os outros, crianças e jovens,o imaginário da ‘promessa’ não golpeou a visão de ‘descartabilidade’,uma vez que poderiam ameaçar a ordem social vigente, aos lhes seremoferecidas oportunidades iguais para concorrerem a outros lugares sociaisdistintos daqueles que marcavam sua posição de origem.154

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