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“De quem é a responsabilidade do cuidado?” O papel das mulheres no processo dedesinstitucionalização da pessoa em sofrimento psíquico.“Lurdes teria ido ao Instituto e, diante da descoberta denossa visita ao local, haviam-na retirado de lá”. Para seutio, Lurdes não é violenta, e ele se coloca à disposiçãodo cuidado da mesma. Como já destacado, a sobrecargaexiste no seio dessa família, que não tem como ofereceros cuidados necessários ao seu ente com transtorno mental.Questiono a ausência da instituição de cuidados deLurdes. A essa mãe caberia oferecer à filha tais cuidados?Para as famílias pobres, intensifica-se a problemática doscuidados, já que todos os membros necessitam trabalhar,inclusive as mulheres. Além disso, cabe-lhes exercer outrasfunções que lhes são atribuídas. Essa ausência de cuidado oumaltrato pode estar sinalizando a sobrecarga das mulheresnas funções de cuidados. A que ponto teria chegado a faltade opção, para que essa mãe tivesse que colocar a própriafilha em cárcere privado? Não estamos defendendo a atitudetomada, entretanto, o quanto essa circunstância se relacionaà ausência de proteção do Estado e à falta de investimento nosserviços de saúde mental?Diante de comportamentos femininos que sugerem manifestaçõesda ausência de amor materno”, eles são indícios de crimepor atitudes impensáveis e passíveis de repressão. Distanciam-sedos códigos que reafirmam uma dada “essência” natural de sermãe. Se mulheres pobres, intensificam-se ainda mais as exigênciasdas responsabilidades maternas. Para isso as instituições colocam--se de prontidão para apontar suas falhas e, assim, repudiá-lase fiscalizá-las e, assim, puni-las por não cumprirem seu papel decuidadoras, ou de se apresentarem como “mães más”.Com Badinter (1985:271), podemos perceber como o papelde cuidadoras foi representado ao longo dos tempos, construindoa noção de que as mulheres devem sacrificar-se pela prole, numarepresentação do que seja a “boa mãe”. Nessa representação, ofilho “(...) será o sinal e o critério da sua virtude, ou de seu vício, desua vitória e de seu fracasso. A boa mãe será recompensada e a máserá punida (...)”, segundo suas condutas para com seus filhos. Comisso, poderia essa mãe ser tida como culpada pelo transtorno mentalde sua filha? Essa filha tem culpa pela ausência do sentimento de maternidadedessa mãe? As mulheres, dentro da história da humanidade,foram submetidas a pressões ideológicas, que as levaram a incorporaro desejo de serem mães, sacrificando suas vontades e projetos em nomede significados do que seria “o bem” das famílias, encontrando neles suafelicidade e realização.Se estavam todos de acordo em santificar a mãe admirável, estavamtambém em fustigara a que fracassava em sua missão sagrada.Da responsabilidade à culpa havia apenas um passo, que115

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