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Direitos Humanos na Cidade dos Excluídos: Estratégia de cidadaniaEfeitos do cinemaO cinema além de seu caráter específico demeio de comunicação, é considerado por vários teóricoscomo um forte instrumento de ação política. ParaCarrière (1994), os filmes não existem apenas na tela eno instante de sua projeção. Eles se mesclam às nossasvidas, influem na nossa maneira de ver o mundo, consolidamafetos, estreitam laços, tecem cumplicidade. Marina,durante seu longo tempo de internação, frequentementeapresentava sintomas de auto e hetero agressão, talvezmovida pela angústia de não sentir o próprio corpo. Ainda,levada pelo desespero de sentir a vida dolorosamentevazia ou mesmo ausente, batia a cabeça sobre as paredesou pedia às companheiras que fosse ferida com uma pedra.Certamente não era nunca escolhida pela equipe deseu pavilhão para ir ao cinema. Em uma das vezes em quepercorríamos o pavilhão ao passar por ela reparamos queestava bem vestida, aguardando para ir ao cinema. No entanto,fomos prevenidos pela equipe que por seu comportamentonão era aconselhável sua inclusão no grupo de expectadores.Retiramos-nos e ao longe, escutávamos os gritos de Marina :“Cinema, cinema, quero cinema”. Esta atitude parecia algo maisque mera imitação de comportamento, repetição de palavrasditas por outras companheiras ou mesmo um simples desejode sair da enfermaria, mas parecia sim, nos pedir cumplicidadepara crer em direitos, igualdade, humanidade e vida. Decidimosbuscá-la e assumir a responsabilidade frente à equipe dopavilhão. Durante a sessão Marina assistiu silenciosamente, e, deforma gentil, ofereceu pipoca às companheiras próximas dela. Foisolidária, foi humana, foi cúmplice. Não faltou mais a nenhumasessão de cinema.Se para o projeto de intervenção comunitária utilizamos o cinemacomo instrumento, obtemos como recurso, a força das imagensexpostas na tela. Isso ficou patente na reação de uma paciente naapresentação do filme “Deus é Brasileiro” de Cacá Diegues. Durantea cena em que caía forte pancada de chuva, a paciente que acompanhavao filme com grande atenção, num “gesto de fidelidade àimagem” 10 , deixou uma de suas mãos deslizar ao lado da cadeira atéalcançar o interior da bolsa apoiada no chão. Dali, retirou o guardachuva e o abriu, permanecendo abrigada, quase imóvel, até que numdado momento a cena se transforma e o céu aparece límpido na tela.A paciente/expectadora fechou o guarda chuva e o guardou novamentena bolsa, voltando o olhar, tranquilo e fiel à imagem na tela. Quando,10Comentário de Wladimir Dias-Pino à autora, sobre o relato da cena durante um encontro casual na Galeriado lago do Museu da República (2006)65

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