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Rachel Gouveia Passosdeixando a cargo da mulher se ocupardas questões do âmbito privado, familiar,e,portanto, ele não sofre as mesmas consequênciasda sobrecarga emocional, poispassa grande parte do tempo fora de casa(Campos e Soares, 2005:231).Dessa forma, mesmo com a participação de homensnos cuidados, em geral são as mulheres que se ocupamcom as questões da esfera privada; por isso, caber-lhes-áa responsabilidade pelo sujeito com transtorno mental. Talsobrecarga se agrava com as dificuldades de participaçãoda rede secundária, já retratadas neste trabalho, e quereforçam práticas e ideologias associadas à distinção dospapéis sociais masculinos e femininos.Um exemplo de destrato está no caso de Lurdes 5 , apartir da experiência profissional que tivemos no projetoSOS-Direitos dos Pacientes Psiquiátricos 6. Lurdes reside coma família, depois de ter vivido alguns anos numa instituiçãopsiquiátrica. É uma pessoa preservada em relação às suascondições psíquicas e apresenta certo grau de autonomia. Seutratamento é realizado em um serviço de referência da zona norteda cidade, informação dada por seu tio José. Entretanto, chegaa nós uma denúncia de maus–tratos por parte desse mesmo tio,alegando que a mãe de Lurdes a tranca em um quarto dos fundos,sem nenhuma condição de higiene, não a alimenta e a proíbe deir ao Instituto para realizar seu tratamento. José também relataque Lurdes não vai há mais de três meses ao Instituto, alegandoque não está bem por se ausentar de seu tratamento. Partimos eue a coordenadora do projeto para uma visita, juntamente com ocoordenador do CAPS de referência do bairro em que Lurdes reside.Chegando ao local, encontramos o Sr. José, que nos levou até acasa da mãe de Lurdes, que nos atende, relatando que a filha nãose encontra, que tinha ido ao Instituto para a consulta. Solicitamos anossa entrada. A Sr.a Mercedes, como se chamava, se incomodou comnossa presença, pedindo que fôssemos breves, pois ela teria que sair.Levou-nos ao quarto em que Lurdes dorme. Era o quarto dos fundosda casa, fechado com cadeado e corrente de ferro. Tinha muitas cascasde banana no chão e sujeira, cheirava a mofo e era muito úmido. Haviaum colchão velho, alguns lençóis sujos e apenas uma janelinha pequenacom o vidro quebrado. A Sr.a Mercedes relatou que Lurdes é muitoviolenta e que ficava naquele quarto porque a família não aguentavasua presença. Após nossa saída da casa, o Sr. José diz que era mentira:5Nome fictício para preservar identidade da usuária e de familiares. Os demais nomes aqui destacados tambémserão fictícios.6O projeto SOS – Direitos dos Pacientes Psiquiátricos é um serviço oferecido aos usuários, aos familiares e àrede de saúde mental e assistência para auxílio e acompanhamento jurídico, assistencial, social. É um projetodo Instituto Franco Basaglia, sendo pioneiro em todo o Brasil como balcão de atendimento. Atuei no projetoprimeiramente como estagiária/bolsista e, depois, como assistente social.114

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