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Maria Engrácia LeandroIntroduçãoA preocupação humana com a saúde remonta atempos de antanho. Porém, só nos tempos modernos,com o alvorecer do iluminismo, a humanidade passoua investir de forma mais racional na melhoria da saúdee no combate à doença. Descartes (1628) insurge-secontra o ensino duma filosofia especulativa e preconizaantes uma outra que seja prática, permitindo conhecer oagir das forças da natureza e outros meandros da vida, talcomo se conhecem os ofícios dos artesãos, facultando aoshumanos tornarem-se “mestres e possuidores da natureza”.Dá, assim, muito mais força à racionalidade científicaacerca do corpo e da mente, da saúde e da doença, emboraHipócrates, nos finais do século IV a. C., com a sua célebreteoria dos humores, já tenha apontado nesse sentido.Ademais, a ideia segundo a qual a humanidade poderávencer a doença, ainda que continue sujeita à morte – qualcerteza das certezas - está fortemente imbricada no contextodas Luzes, projecto que tem vindo a persistir e a intensificar-se.Basta pensar como desde o século XIX as descobertas científicase tecnológicas se têm vindo a alargar e a intensificar, o que com amelhoria dos níveis de vida contribui para extraordinárias melhoriasda saúde. As sociedades ocidentais, no século XX, ganharamà morte cerca de 30 anos. Porém, países menos desenvolvidos nãoatingem, de modo algum, semelhantes patamares, o que é bemrevelador dos efeitos das profundas desigualdades internacionais.Outro tanto se diga da interferência das pertenças sociais, do género,dos fenômenos migratórios ou da pertença a outras minorias.As desigualdades sociais, sendo igualmente desigualdadesde saúde, são uma realidade universal e antiga, mas não tão visívelcomo nos tempos modernos. Todas as sociedades conhecidassão hierarquicamente ordenadas em função da idade, do sexo, doestatuto, da riqueza e, por cúmulo, legitimam estas disparidades emmitos fundadores, religiões, na ordem simbólica da natureza, inclusivena biologia, o que os trabalhos de Godelier (1982) e Héritier (1996),entre outros, atestam perfeitamente. Ademais, a progressão da esperançade vida e, concomitantemente, o crescimento das disparidadessociais perante a morte são constatadas desde o século XVII, isto é,muito antes da generalização das vacinas e das grandes descobertasbiológicas (Fassin, 2000).Com efeito, é a construção diferenciada das condições sociais deexistência que conduz à produção de desigualdades sociais de saúde:primeiro acentuadas com o desenvolvimento da urbanização e depoiscom o impulso do capitalismo (Patlagean, 1977; Védrenne-Villeneuve,18

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