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Pobreza e Desigualdades - O Laboratório - UFRJ

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uma onda de cidadania | 43Sem dúvida, era impossível prever o que aconteceria quando, dois dias antes, opresidente Collor de Mello surgira na TV em cadeia nacional para convocar apopulação a sair às ruas trajando verde e amarelo no domingo, em sinal deapoio e de resposta aos ataques que vinha sofrendo. Passou-se apenas um dia,um sábado de contramensagens espalhadas por canais bem mais discretos doque a mídia oficial e nos quais contaram as redes boca a boca, para que a contraconvocaçãose espalhasse: “vamos sair de preto”. Pesquisas poderiam revelar apartir de que instâncias, precisamente, vieram essas convocações – destaquem-seo Movimento pela Ética na Política e as entidades estudantis –, mas importaassinalar que a resposta maciça, nas principais capitais do país, parece ter sidovivida pela população como um sinal de que a sociedade existe e pode sintonizar-seem horizontes comuns. Como se sabe, isso não é evidente, historicamente, nacultura política brasileira, e as provas de que se criou um imaginário de sociedadeparticipativa viriam em tempos subseqüentes.Esse incidente era sintoma, entre outros que ocorriam em 1992 em funçãodo impeachment presidencial, de um momento da vida nacional caracterizadopor ampla mobilização e espaços de ação e debate, dos quais não se excluíram asinterações com os poderes públicos, dinâmicas que se tornariam mais intensas evisíveis a partir do início de 1993.Na verdade, fossem outros os critérios oficiais e os do senso comum sociológico,o ano de 1993 seria considerado um marco na história da sociedade brasileira.Foi um momento raro de interações no espaço público das mais diversas organizações,grupos, indivíduos, de diferenciadas origens e camadas da população, denorte a sul do país, em grandes e pequenas cidades, trazendo questões, discursose ações que, embora diferenciadas, produziam consenso em algum ponto intangível.Sobretudo, a forma de organização totalmente descentralizada pela qual sedavam esses processos – os “comitês”– foi invenção original e, diga-se de passagem,jamais se repetiria em futuras mobilizações análogas. Falo, claro, da campanha queteve seu auge entre 1993 e 1994, a Ação da Cidadania contra a Fome e a Misériae pela Vida, que foi criada paralelamente e em sintonia com o Conselho Nacionalde Segurança Alimentar (Consea), no plano do governo federal.

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