T - GIL FILHO, SYLVIO FAUSTO.pdf - Universidade Federal do Paraná
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O caráter <strong>do</strong> discurso <strong>do</strong> CELAM representa, em nossa análise, um<br />
redimensionamento da territorialidade católica na escala da Igreja Universal. A Igreja<br />
Latino-americana passa de fato a ter uma identidade cultural e política específica,<br />
um nível de gestão eclesiástica regional com um discurso de caráter mais autônomo<br />
e que possibilitou o reforço de tendências de pensamento mais articuladas a uma<br />
representação de libertação social <strong>do</strong> continente.<br />
Esta nova territorialidade católica demonstra uma tônica peculiar da<br />
articulação histórica da Igreja nas décadas de 1970, 1980 e 1990.<br />
A história da Igreja é ordenada culturalmente, além <strong>do</strong> arrazoa<strong>do</strong> político-<br />
institucional que verificamos no discurso de Medellín, mas o olhar está nos<br />
esquemas de significação. Outrossim, é na significação <strong>do</strong>s esquemas culturais <strong>do</strong><br />
poder, veicula<strong>do</strong> pelo discurso e realiza<strong>do</strong> pelos sujeitos históricos, que os<br />
patamares de equilíbrio das territorialidades se verificam.<br />
Parafrasean<strong>do</strong> SAHLINS (1990), as circunstâncias contingentes da própria<br />
ação não se prendem necessariamente aos significa<strong>do</strong>s que lhes são atribuí<strong>do</strong>s por<br />
grupos específicos, o que leva os homens a repensar os seus esquemas além <strong>do</strong><br />
convencional. Sen<strong>do</strong> assim, a cultura está ligada à ação.<br />
Como em Medellín, podemos inferir que a mudança <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s até então<br />
atribuí<strong>do</strong>s à Igreja em sua contingência histórica permite uma nova relação de<br />
posição da instituição diante da sociedade, o que representa uma possibilidade de<br />
transformação estrutural.<br />
Esta transformação estrutural se distingue da perspectiva da lougue durée<br />
de BRAUDEL (1992, p.356), onde a estrutura é o que, no contexto da sociedade,<br />
escapa às vicissitudes <strong>do</strong> tempo, mas se aproxima da visão de FOUCAULT (1997),<br />
onde o que existe para análise são categorias universais cujos conteú<strong>do</strong>s possuem<br />
uma especificidade de época considerada em sua descontinuidade.<br />
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