T - GIL FILHO, SYLVIO FAUSTO.pdf - Universidade Federal do Paraná
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ORLANDI (1996), na tentativa de definir o discurso religioso, introduz a<br />
noção de reversibilidade colocan<strong>do</strong>-a como condição <strong>do</strong> discurso, ou seja, sem esta<br />
dinâmica na relação de interlocução o discurso não teria continuidade, não se<br />
realizaria na plenitude. Adjacente à reversibilidade está o critério de polissemia, pois<br />
em to<strong>do</strong> discurso o senti<strong>do</strong> escapa ao seu locutor. Sob este aspecto o discurso<br />
autoritário tende a reter a polissemia e almejar a monossemia. Assim como o<br />
discurso autoritário, o discurso religioso assumiria uma ilusão de reversibilidade que<br />
lhe denotaria a tendência para monossemia.<br />
A tipologia de ORLANDI no que se refere ao discurso religioso parte de<br />
ALTHUSSER (1985), que configura como exemplo a ideologia religiosa cristã. Nesta<br />
reflexão ele afirma que a ideologia religiosa tende sempre a transformar os<br />
indivíduos em sujeitos submissos à condição de escolha passiva em relação ao<br />
Sujeito principal a que to<strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong> se refere: Este outro Sujeito Único, Absoluto,<br />
ou seja, Deus. Assim, a "interpelação <strong>do</strong>s indivíduos como sujeitos supõe a<br />
existência de um outro Sujeito, Único, em Nome <strong>do</strong> qual a ideologia religiosa<br />
interpela to<strong>do</strong>s os indivíduos como sujeitos."(ALTHUSSER, 1985, p.11). Neste<br />
contexto se caracteriza o discurso religioso como aquele em que fala a voz de Deus,<br />
e qualquer representante Seu é a voz da Divindade.<br />
Todavia, seremos cautelosos em relação a esta tipologia esboçada. Por<br />
primeira condição, a multiplicidade das estruturas religiosas dificulta padronizar uma<br />
tipologia constante para to<strong>do</strong> e qualquer discurso religioso por estas instituições<br />
elabora<strong>do</strong>.<br />
Sob outro aspecto, podemos considerar que a noção de ilusão de<br />
reversibilidade que aproxima o discurso religioso <strong>do</strong> discurso autoritário é<br />
precipitada. O reconhecimento <strong>do</strong> sujeito na Divindade como enuncia<strong>do</strong>r e aos<br />
sujeitos como enuncíatários interpela<strong>do</strong>s não reduz a possibilidade de mudança de<br />
posição no piano discursivo.<br />
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