T - GIL FILHO, SYLVIO FAUSTO.pdf - Universidade Federal do Paraná

No bojo desta reação estava o fato da autonomia que a Igreja Latino
Americana construíra na década pós-Medellín e o envolvimento de setores da Igreja
mais comprometidos com causas políticas de caráter popular. A territorialidade das
comunidades eclesiais de base, que em muito contribuíram na construção de uma
nova representação social da Igreja diante camadas populares, intrínsecamente
colocava a Instituição em uma situação pouco confortável em relação às ditaduras
militares latino-americanas.
Uma contradição de caráter institucional aflora nesta gama de relações. De
um lado, a construção de uma identidade regional autônoma da Igreja Latino
Americana, e, de outro, a estrutura hierárquica da Igreja Universal e suas profundas
raízes européias.
Quando a Igreja latino-americana se volta para a construção de um
discurso de transformação estrutural da sociedade e assume uma aproximação dos
interesses das camadas populares, coloca em cheque a própria estrutura da Igreja e
seu caráter implicitamente conservador.
A temporalidade da instituição Igreja Universal é diferente da
temporalidade da sociedade que ela pretende transformar, marcando assim um
paradoxo entre o discurso e a práxis, entre o caráter do que se é e do que se
pretende mudar.
No discurso inaugural da Conferência de Puebla, o Papa João Paulo II
resume sintomaticamente os caminhos de Puebla em relação aos tomados desde
Medellín:
A Conferência que agora se abre, convocada pelo venerado Paulo VI, confirmada por meu
inesquecível predecessor João Paulo I e reconfirmada por mim como um dos primeiros
atos de meu pontificado, se liga com aquela, já longínqua, do Rio de Janeiro, que teve
como seu fruto mais notável o nascimento do CELAM. Contudo se liga ainda mais
estreitamente com a II Conferência de Medellín, cujo décimo aniversário se comemora.
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