T - GIL FILHO, SYLVIO FAUSTO.pdf - Universidade Federal do Paraná
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Referendamos o pressuposto de que a religião, como sistema simbólico,<br />
seja um veículo privilegia<strong>do</strong> <strong>do</strong>s fluxos de poder, ou, no dizer de BOURDIEU (1998,<br />
p. 31):<br />
...que sua temática refira-se a ordem embora em senti<strong>do</strong> bastante distinto, parece<br />
estranha a duas correntes: primeiro àqueles que tornam a sociologia <strong>do</strong>s fatos simbólicos<br />
uma dimensão da sociologia <strong>do</strong> conhecimento (ou melhor privilegiam a sintaxe mais <strong>do</strong><br />
que a temática) -, e segun<strong>do</strong>, àqueles que a encaram como uma dimensão da sociologia<br />
<strong>do</strong> poder. E não poderia ser de outro mo<strong>do</strong> uma vez que cada uma destas teorias só é<br />
capaz de apreender o aspecto que apreende vencen<strong>do</strong> o obstáculo epistemológico que<br />
para ela constitui, no âmbito da sociologia espontânea, o equivalente ao aspecto que a<br />
teoria complementar e oposta constrói.<br />
A discussão de BOURDIEU demonstra que o malogro destas concepções<br />
antagônicas reforçou o impedimento da interpretação estrutural e contribuiu para a<br />
impressão de incoerência simplista de uma ordem mítica.<br />
Assim, evidencia-se a ação simbólica eficaz da religião, a partir da<br />
proposição de DÜRKHEIM, no que tange às funções sociais e propriamente políticas<br />
que a religião cumpre em favor <strong>do</strong> corpo social na totalidade.<br />
Levan<strong>do</strong> em conta o pressuposto de DÜRKHEIM, no que se refere à<br />
gênese social <strong>do</strong>s esquemas de pensamento, percepção, apreciação e de ação na<br />
base da divisão social em classes, somos direciona<strong>do</strong>s à hipótese de que existe<br />
uma correspondência entre as estruturas sociais e as estruturas mentais e que estas<br />
se estabelecem através da estrutura <strong>do</strong>s sistemas simbólicos, destacan<strong>do</strong>-se entre<br />
elas a religião. (apud BOURDIEU 1998, p. 33-34).<br />
A religião contribui para a imposição (dissimulada) <strong>do</strong>s princípios de estruturação da<br />
percepção e <strong>do</strong> pensamento <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e, em particular <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> social, na medida em<br />
que impõe um sistema de práticas e de representações cuja estrutura objetivamente<br />
fundada em um princípio de divisão política apresenta-se como estrutura naturalsobrenatural<br />
<strong>do</strong> cosmos.<br />
O fato religioso revela, através <strong>do</strong>s símbolos sagra<strong>do</strong>s, a síntese <strong>do</strong> ethos<br />
de uma determinada comunidade. As disposições morais, mesmo as estéticas e o<br />
próprio devir da existência fazem parte da visão de mun<strong>do</strong>, congeminada pela<br />
religião. Como coloca GEERTZ (1989), muito embora não seja novidade que a -<br />
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