T - GIL FILHO, SYLVIO FAUSTO.pdf - Universidade Federal do Paraná
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Nesta teorização, não reservamos uma autonomia ao profano, pois,<br />
confirman<strong>do</strong> a plena significação <strong>do</strong> sagra<strong>do</strong>, o profano 15 seria apenas transição, e o<br />
não-sagra<strong>do</strong> é inteligível porque existe o sagra<strong>do</strong>. O mun<strong>do</strong> pode ser regionaliza<strong>do</strong><br />
em três instâncias:<br />
(i) sagra<strong>do</strong>,<br />
(ii) não-sagra<strong>do</strong><br />
(iii) o profano como transição.<br />
Os fenômenos podem ser percebi<strong>do</strong>s pela sua materialidade através <strong>do</strong>s<br />
senti<strong>do</strong>s. Entretanto, quan<strong>do</strong> concebemos uma realidade conferimos uma existência<br />
puramente intelectual. A realidade intelectual não é sensível per si. Sen<strong>do</strong> assim, os<br />
qualitativos e adjetivos de um fenômeno fazem parte deste âmbito, o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />
atributos e da nomeação. Do mesmo mo<strong>do</strong>, as realidades <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> da existência<br />
não são intrínsecamente não-sagradas. Em muitas culturas religiosas a realidade<br />
sensível é inerentemente sagrada, na medida em que faz parte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> da<br />
natureza. Por exemplo, na cultura religiosa zoroastriana, desde o século V a.C. até<br />
sua expressão tardia na Pérsia e índia, os elementos da natureza - a terra, a água e<br />
o fogo - são inerentemente sagra<strong>do</strong>s. Nas culturas religiosas africanas, como a<br />
lorubá, os elementos da natureza possuem uma sacralidade indissociável.<br />
Contu<strong>do</strong>, na cultura judaico-cristã houve uma ruptura. Nesta perspectiva,<br />
condicionou-se a sacralidade a uma ação externa de consagração <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />
A realidade <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> a priori é de natureza profana. Este ato de poder na<br />
consagração <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> reveste-se de uma áurea institucional reservada ao clero.<br />
15 Segun<strong>do</strong> a etimologia da palavra <strong>do</strong> latim, profânus, literalmente, que está em frente ao<br />
templo, que não entra nele; <strong>do</strong>nde, não inicia<strong>do</strong>, assim como de pro- 'diante de' + fânum por fasnum<br />
'lugar consagra<strong>do</strong> aos deuses, templo', de fas (indeclinável) 'permissão ou ordem estabelecida pelos<br />
deuses'. (PROFANO In. HOUAISS 2001, p. 2305). Neste senti<strong>do</strong>, o profano é o entorno e/ou a<br />
periferia <strong>do</strong> sagra<strong>do</strong>; na presente análise o consideramos como transição entre o sagra<strong>do</strong> e o nãosagra<strong>do</strong>.<br />
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