T - GIL FILHO, SYLVIO FAUSTO.pdf - Universidade Federal do Paraná

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O que objetivamos é a interpretação do discurso oficial da Igreja, sua estrutura hierárquica, os objetos concretos de poder e as práticas das estruturas de poder. Estas relações são reconstituídas sob a base conceituai do espaço de representação e territorialidade do sagrado em sucessivas temporalidades. Sob a ótica relacionai, apresenta-se uma narrativa multidimensional do passado, estabelecida na teia de relações possíveis do fato com o objeto de pesquisa. A análise do discurso da Igreja permite emergir as idéias latentes atinentes ao poder. Já os referenciais empíricos permitem identificar os contornos da prática institucional. A conjunção destes aspectos perfaz o ritmo do presente texto. O Concilio Vaticano II (1962-1965) é o referencial utilizado para a compreensão da territorialidade da Igreja Católica nas décadas finais do século XX. O mundo, após a segunda grande guerra, tornara-se mais ideologizado, onde um dualismo reinante enfraquecia as bases da autoridade e, por que não dizer, a legitimidade moral da Igreja Católica Romana. A representação monárquica dos papas do século XIX e da primeira metade do século XX é caracterizada por uma separação em relação às bases da Igreja e muitas vezes mais preocupados com o poder temporal do que com objetivos espirituais estava em crise. A ascensão ao poder de Angelo Giuseppe Roncali, que assumiu o papado em 1958 com o nome de João XXIII marca uma digressão do modelo de Igreja para uma nova adaptação ao contexto mundial. O rearranjo de autoridade que acontecia nas nações do mundo também se apresentava na Igreja. Neste iminente quadro, em 1962, abre-se o Concilio Vaticano II, que, a posteriori, é encaminhado pelo papa Paulo VI, que de certo modo representa o príncipe do contramovimento do carisma de seu antecessor. Diante das transformações históricas nas relações sociais da época, as expectativas conciliares vão ao encontro de uma redefinição de postura da Igreja. Abre-se um projeto de Igreja que tenta recuperar o caráter missionário, em muito perdido, e configurar uma renovada representação de autoridade em relação aos católicos, em princípio, e aos cristãos não-católicos, e o reconhecimento de outras 25
eligiões fora do âmbito cristão. Tal representação possui um caráter de um lado restaurador e de outro transformador. Esta dialética perpassa a configuração da territorialidade católica hodierna. Ainda como um projeto inacabado, o Concilio Vaticano II sofre uma releitura no Brasil por parte dos bispos. Emblemáticamente fortalece uma representação social da Igreja por parte do episcopado nacional consubstanciado pela Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Almeja-se um engajamento maior, da Igreja no Brasil em relação aos problemas sociais e políticos do país. Este engajamento maior reforçado pelas declarações de Medellín (1968) e Puebla (1979), desloca a prática eclesial regional para uma representação de Igreja específica, latino-americana. De certo modo este discurso é conflitante com a representação dominante de Igreja expressada pela Sé Romana mais eurocêntrica. 11 A diversidade da estruturação da territorialidade católica está muito referenciada pelas práticas eclesiais regionais e seu tensionamento com a representação universal da Igreja. O tema será abordado com mais profundidade no 3 o capítulo. Há um espaço de representação forjado na realidade latino-americana próprio deste contexto regional, todavia articulado a uma realidade também global. Esta dinâmica nos indica a possibilidade de redefinição regionalizada da instituição Igreja Católica, tanto em sua escala local como em suas relações com a Sé Romana. O processo de expansão das estruturas tradicionais de poder da Igreja no Brasil se verificava na multiplicação de dioceses e paróquias nas décadas 1950- 1960, a qual examinaremos, mais detidamente, no 3 o e 4 o capítulos. Também a política de João XXIII estimulava uma renovação catequética do ensino e missão católicos, um reforço do rito e vida sacramental e um reforço de leigos na ação 11 No parecer de LIBÂNIO (1990, p. 29) "Depois de viver o espírito primaveril do Concilio Vaticano II, a Igreja Católica mergulhou, nos anos 80, num rigoroso inverno que reforçou a disciplina interna e a centralização" 26
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