T - GIL FILHO, SYLVIO FAUSTO.pdf - Universidade Federal do Paraná
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Em sua exposição ele declarava que alguns, a fim de rejeitar a verdade,<br />
apresentam discursos mentirosos e argumentos sem fim para aumentar mais a<br />
polêmica <strong>do</strong> que aquilo que favorece a construção <strong>do</strong> edifício de Deus onde a fé se<br />
realiza. Revestem de mo<strong>do</strong> astuto a inverdade com aparência de verdade e, assim,<br />
seduzem os ignorantes. Na má interpretação <strong>do</strong> correto constroem o erro. Pela arte<br />
das palavras, induzem os mais simples à ruína. No texto, afirma que ao explicitar as<br />
<strong>do</strong>utrinas <strong>do</strong>s que eram diferentes os exporia a própria inverdade que encarnam. É<br />
no discurso sobre o erro que Irineu de Lião visa apontar a verdade. Na polêmica é<br />
que ele aponta o desvio <strong>do</strong> caminho correto. A dúvida é inimiga da fé, e sem fé não<br />
há possibilidade de encontrar a verdade. É claro que, no seu papel de apologeta, faz<br />
<strong>do</strong> contradiscurso a arma ideal e necessária para apresentar a sua versão da<br />
verdade. Verdade esta en<strong>do</strong>ssada pela interpretação autoritativa <strong>do</strong> discurso<br />
funda<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Evangelho e legitimada pela Igreja, sen<strong>do</strong> este o discurso váli<strong>do</strong> diante<br />
de outras interpretações que necessariamente correspondem à inverdade com a<br />
qual acusa os gnósticos. Trata-se, sobremaneira, de uma articulação de poder no<br />
plano <strong>do</strong> discurso. O contexto discursivo de Irineu de Lião é o de preservação da<br />
unidade teológica da crença católica na divindade em Jesus Cristo, tanto que ele é<br />
reconheci<strong>do</strong> pela Igreja Católica Romana como teólogo da orto<strong>do</strong>xia. A discussão<br />
ireneana nos remete a um campo de significa<strong>do</strong>s da justificação pela fé e à<br />
necessidade de uma teologia oficial que é base de legitimação da instituição<br />
religiosa e ao poder de seus líderes que transcendem a sua temporalidade e<br />
relevam uma permanência na História da Igreja. Assim sen<strong>do</strong>, dezoito séculos<br />
depois, a relações de poder que permeiam a instituição Igreja e seu discurso oficial<br />
restabelecem constantemente esta correspondência. Esta característica <strong>do</strong> discurso<br />
religioso tradicional apresenta um primeiro momento de reflexão sobre o poder. A<br />
permanência no discurso religioso demonstra a possibilidade de interpretação de<br />
uma rede de legitimações históricas articuladas por parte da ação <strong>do</strong> clero e <strong>do</strong>s<br />
especialistas da religião.<br />
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