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jaqueline fátima roman fundamentos de legitimidade do ... - Unioeste

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104<br />

moral e coletivo. Dissertan<strong>do</strong> sobre essa possibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> povo exercer o governo, Rousseau<br />

afirma que essa forma <strong>de</strong> governar tornaria o próprio governo insuficiente:<br />

No entanto, justamente isso torna o governo insuficiente em certos aspectos,<br />

porque as coisas que <strong>de</strong>vem ser distinguidas não o são, porque o príncipe e<br />

o soberano não sen<strong>do</strong> senão a mesma pessoa, formam por assim dizer um<br />

Governo sem Governo. Não será bom que aquele que faz as leis as execute,<br />

nem que o corpo <strong>do</strong> povo <strong>de</strong>svie sua atenção <strong>do</strong>s <strong>de</strong>sígnios gerais para<br />

empresta-la aos objetivos particulares[...] o abuso da lei pelo governo é mal<br />

menor <strong>do</strong> que a corrupção <strong>do</strong> legisla<strong>do</strong>r (ROUSSEAU, 1983, p.83).<br />

Nota-se que Rousseau se mostra <strong>de</strong>scrente quanto à eficácia <strong>de</strong> um governo<br />

<strong>de</strong>mocrático, não só porque não consi<strong>de</strong>ra a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> que legislativo e governo se confundam,<br />

mas mais <strong>do</strong> que isso, Rousseau é <strong>de</strong>scrente da existência <strong>de</strong>sse próprio governo <strong>de</strong>mocrático,<br />

é o que afirma: “toman<strong>do</strong>-se o termo no rigor da acepção, jamais existiu, jamais existirá uma<br />

<strong>de</strong>mocracia verda<strong>de</strong>ira. É contra a or<strong>de</strong>m natural governar o gran<strong>de</strong> número e ser o menor<br />

número governa<strong>do</strong>” (ROUSSEAU, 1983, p.84). Essa passagem <strong>do</strong> pensamento político <strong>de</strong><br />

Rousseau é fundamental para se compreen<strong>de</strong>r que ao contrário <strong>do</strong> que muitos pensam,<br />

Rousseau que foi consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong> o pai da <strong>de</strong>mocracia popular, está mais para pai da<br />

soberania popular. A <strong>de</strong>mocracia é uma forma <strong>de</strong> governo na qual muitos governam, sen<strong>do</strong><br />

que Rousseau ressaltou as <strong>de</strong>svantagens existentes na confusão <strong>de</strong> soberano e governo, e<br />

mais, <strong>de</strong>clarou abertamente que a <strong>de</strong>mocracia verda<strong>de</strong>ira jamais existiu e jamais existirá. Tais<br />

colocações <strong>de</strong>monstram que para Rousseau a <strong>de</strong>mocracia é um objetivo inalcançável e até<br />

mesmo in<strong>de</strong>seja<strong>do</strong>, porque ele próprio não enxerga vantagens nessa forma <strong>de</strong> governo.<br />

Acrescenta que um governo <strong>de</strong>mocrático enfrenta ainda, outros obstáculos, porque muitas<br />

outras “coisas difíceis <strong>de</strong> reunir supõem esse Governo” (ROUSSEAU, 1983, p. 85). Rousseau<br />

elenca quatro requisitos necessários para que ela exista:<br />

Em primeiro lugar, um Esta<strong>do</strong> muito pequeno, no qual seja fácil reunir o<br />

povo e on<strong>de</strong> cada cidadão possa sem esforço conhecer to<strong>do</strong>s os <strong>de</strong>mais;<br />

segun<strong>do</strong> uma gran<strong>de</strong> simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> costumes que evite a acumulação <strong>de</strong><br />

questões e as discussões espinhosas; <strong>de</strong>pois, bastante igualda<strong>de</strong> entre as<br />

classes e as fortunas, sem o que a igualda<strong>de</strong> não po<strong>de</strong>ria subsistir nos<br />

direitos e na autorida<strong>de</strong>, por fim, pouco ou na<strong>de</strong> <strong>de</strong> luxo – pois o luxo ou é<br />

efeito <strong>de</strong> riquezas, ou as torna necessárias (ROUSSEAU, 1983, p. 85).<br />

Assim a forma <strong>de</strong>mocrática é quase impossível <strong>de</strong> ser alcançada, porque exige a<br />

combinação <strong>de</strong> muitos pressupostos, tanto objetivos, como por exemplo, o tamanho <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong>, e a igualda<strong>de</strong> econômica, quanto subjetivos, no que se refere aos costumes <strong>do</strong>s

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