jaqueline fátima roman fundamentos de legitimidade do ... - Unioeste
jaqueline fátima roman fundamentos de legitimidade do ... - Unioeste
jaqueline fátima roman fundamentos de legitimidade do ... - Unioeste
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
75<br />
comum 68 . Nessa assembléia po<strong>de</strong>ria haver quem pu<strong>de</strong>sse ser beneficia<strong>do</strong> ou viola<strong>do</strong> em suas<br />
vonta<strong>de</strong>s particulares, mas po<strong>de</strong> haver um ponto em que as vonta<strong>de</strong>s particulares<br />
convergem 69 , e é <strong>de</strong>ssa convergência das vonta<strong>de</strong>s particulares que nasce a vonta<strong>de</strong> geral.<br />
Verifica-se que a <strong>de</strong>finição da vonta<strong>de</strong> geral como sen<strong>do</strong> um substrato das<br />
vonta<strong>de</strong>s particulares, não ignora a diferença e a contrarieda<strong>de</strong> existente <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> corpo<br />
social. Rousseau reafirma a diferença existente entre os pactuantes, e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa<br />
diferença para po<strong>de</strong>r ser retirada a vonta<strong>de</strong> geral que não nasce unânime, mas se torna<br />
unânime, o que nos parece testemunhar contra possíveis acusações <strong>de</strong> que a vonta<strong>de</strong> geral<br />
seria totalitária 70 .<br />
Tentar extrair um conceito propriamente dito <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> geral é uma ativida<strong>de</strong><br />
complexa, que exige a análise comparativa e cumulativa <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os fragmentos sobre o tema<br />
que se encontram dispersos na obra Do Contrato Social. Para se tentar chegar próximo <strong>de</strong><br />
toda a estrutura que compõe a vonta<strong>de</strong> geral, segun<strong>do</strong> nosso autor, se faz necessário o estu<strong>do</strong><br />
das condições especiais para a vonta<strong>de</strong> geral ser expressa. Uma <strong>de</strong>ssas condições especiais<br />
refere-se a aplicação da vonta<strong>de</strong> geral à nações jovens e a pequenos Esta<strong>do</strong>s, é o que nos<br />
ensina Starobinski:<br />
ele estabelece uma norma, cujas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> êxito são, talvez, limitadas (pois<br />
convém apenas às nações jovens e aos pequenos Esta<strong>do</strong>s, mas cuja valida<strong>de</strong><br />
normativa é, ao contrário, universal. To<strong>do</strong> sistema concreto po<strong>de</strong> ser-lhe<br />
confronta<strong>do</strong> para ser julga<strong>do</strong>, e eventualmente, con<strong>de</strong>na<strong>do</strong> na proporção <strong>de</strong> sua<br />
discordância com o mo<strong>de</strong>lo i<strong>de</strong>al (STAROBINSKI, 1981, p. 307).<br />
O direito político em Rousseau fundamenta-se na vonta<strong>de</strong> geral, mas essa por sua<br />
vez, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> outros requisitos, como por exemplo, a não existência <strong>de</strong><br />
socieda<strong>de</strong>s parciais, a limitação territorial <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, e a existência <strong>do</strong> legisla<strong>do</strong>r, e <strong>de</strong> um<br />
soberano (povo), sen<strong>do</strong> que esses elementos são to<strong>do</strong>s cumulativos. A vonta<strong>de</strong> geral é<br />
conceito central no pensamento político <strong>de</strong> Rousseau, ten<strong>do</strong> em vista que a consciência<br />
individual <strong>de</strong>ve estar adaptada à vonta<strong>de</strong> geral para que haja o direito político:<br />
A vonta<strong>de</strong> geral como estância soberana é, assim, não apenas a idéia<br />
regula<strong>do</strong>ra- “regra <strong>de</strong> administração”- para se pensar a legitimida<strong>de</strong> da<br />
68 Construção <strong>de</strong> um hospital, por exemplo.<br />
69 To<strong>do</strong>s po<strong>de</strong>m estar convenci<strong>do</strong>s particularmente da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> existência <strong>de</strong> um hospital.<br />
70 “Rousseau toma o parti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s marginaliza<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>s rebel<strong>de</strong>s, <strong>do</strong>s artistas incompreendi<strong>do</strong>s. É isso que faz <strong>de</strong>le<br />
o funda<strong>do</strong>r <strong>do</strong> <strong>roman</strong>tismo e <strong>do</strong> individualismo selvagem, assim como <strong>de</strong> tantos outros movimentos <strong>do</strong> século<br />
XIX – <strong>do</strong> socialismo e <strong>do</strong> comunismo, <strong>do</strong> autoritarismo e <strong>do</strong> nacionalismo, <strong>do</strong> liberalismo <strong>de</strong>mocrático e <strong>do</strong><br />
anarquismo, <strong>de</strong> praticamente tu<strong>do</strong> salvo aquilo que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>signa<strong>do</strong> por civilização liberal, com o seu<br />
obstina<strong>do</strong> amor pela cultura, nos <strong>do</strong>is séculos que se seguiram” (BERLIN, 2005, p. 65).