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jaqueline fátima roman fundamentos de legitimidade do ... - Unioeste

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cidadãos. Assim, conseguir reunir tais condições em um mesmo Esta<strong>do</strong> é tarefa difícil, quase<br />

impossível, e mesmo que fosse plenamente realizável, um governo <strong>de</strong>mocrático, por mais<br />

estranho e contraditório que possa parecer, não seria vantajoso.<br />

Há duas passagens emblemáticas utilizadas por Rousseau que <strong>de</strong>monstram<br />

respectivamente sua visão negativa <strong>do</strong>s governos <strong>de</strong>mocráticos e a sua <strong>de</strong>scrença na<br />

possibilida<strong>de</strong> da existência <strong>de</strong>les. A primeira passagem afirma que “não há forma <strong>de</strong> governo<br />

mais sujeita a guerras civis e a agitações intestinais quanto à forma <strong>de</strong>mocrática ou popular”<br />

(ROUSSEAU, 1983, p.85). Isso se <strong>de</strong>ve ao fato <strong>de</strong> que a forma <strong>de</strong>mocrática está em constante<br />

movimento, justamente por se fundar na igualda<strong>de</strong> política, por ser <strong>de</strong> fácil acesso a to<strong>do</strong>s, e<br />

estar em constante modificação, o que po<strong>de</strong> provocar <strong>de</strong>savenças <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>,<br />

principalmente porque po<strong>de</strong>rão ocorrer tentativas <strong>de</strong> manipular as opiniões em benefício<br />

próprio, a fim <strong>de</strong> conseguir objetivos priva<strong>do</strong>s. A segunda passagem é que “se existisse um<br />

povo <strong>de</strong> <strong>de</strong>uses, governar-se-ia <strong>de</strong>mocraticamente. Governo tão perfeito, não convém aos<br />

homens” (ROUSSEAU, 1983, p. 86). O governo <strong>de</strong>mocrático não pertenceria ao homem. Para<br />

que um povo fosse governa<strong>do</strong> <strong>de</strong>mocraticamente <strong>de</strong>veria ser um povo <strong>de</strong> Deuses, e não <strong>de</strong><br />

homens. Mas qual seria o melhor governo? Rousseau aponta a aristocracia eletiva como sen<strong>do</strong><br />

o melhor. Mas por quê? Respon<strong>de</strong> Rousseau: “por ser por eleição, meio pelo qual a<br />

probida<strong>de</strong>, as luzes e a experiência e to<strong>do</strong>s os outros motivos <strong>de</strong> preferência e <strong>de</strong> estima<br />

pública constituem outras novas garantias <strong>de</strong> que se será governa<strong>do</strong> sabiamente”<br />

(ROUSSEAU, 1983, p.87). E ainda, por não correr o risco <strong>de</strong> haver confusão entre governo e<br />

soberano, ten<strong>do</strong> em vista que a aristocracia é governo <strong>de</strong> poucos.<br />

Verifica-se que a expressão governo <strong>de</strong>mocrático em Rousseau possui significa<strong>do</strong><br />

muito diferente da concepção política vigente. Os governos consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s <strong>de</strong>mocráticos na<br />

atualida<strong>de</strong> não precisam preencher os requisitos estabeleci<strong>do</strong>s por Rousseau, sen<strong>do</strong> que são<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s <strong>de</strong>mocráticos os governos cujo po<strong>de</strong>r emana <strong>do</strong> povo, que o exerce por meio <strong>de</strong><br />

representantes - o que para Rousseau é inadmissível pelos motivos aqui já <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong>s 95 .<br />

Outra ressalva que é importante se fazer, diz respeito à afirmação <strong>de</strong> que a<br />

<strong>de</strong>mocracia se efetivaria, <strong>de</strong>ntro outras exigências, quan<strong>do</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pessoas<br />

governasse. Nota-se que dizer que <strong>de</strong>mocracia é um governo <strong>de</strong> muitos, significa para<br />

Rousseau, dizer que muitos compõem o governo e que poucos são os governa<strong>do</strong>s, o que não<br />

estará <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a or<strong>de</strong>m natural.<br />

95 Ver itens 2.2 e 2.5.

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