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jaqueline fátima roman fundamentos de legitimidade do ... - Unioeste

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24<br />

condições <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> nossas mais eminentes faculda<strong>de</strong>s tais<br />

como a razão e a consciência. Não é, pois, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> absoluto nem <strong>de</strong>finitivo<br />

que a socieda<strong>de</strong> se opõe à natureza (GARCIA, 1999, p.57).<br />

A primeira vista, tanto a liberda<strong>de</strong> quanto a perfectibilida<strong>de</strong> parece trazer somente<br />

vantagens aos homens, por serem muito positivas (dão ao homem uma dimensão que os<br />

animais não têm). A liberda<strong>de</strong> é consi<strong>de</strong>rada positiva, porque é sempre almejada (é o principal<br />

objetivo da obra Do Contrato Social) no entanto, vale a seguinte observação:<br />

Embora teça elogios à liberda<strong>de</strong> humana, Rousseau a avalia como boa e má ao<br />

mesmo tempo. É movida por ela que o homem exce<strong>de</strong> os ditames da natureza e cai<br />

em excessos, arcan<strong>do</strong> ao final com terríveis prejuízos ‘o animal não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sviar-se<br />

da regra que lhe é prescrita, mesmo quan<strong>do</strong> lhe fora vantajoso fazê-lo, e o homem<br />

em seu prejuízo, frequentemente é afasta<strong>do</strong> <strong>de</strong>la (MARQUES, 2005, p. 285).<br />

Apesar <strong>de</strong> ser a liberda<strong>de</strong> positiva, conforme já <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> por possibilitar ao<br />

homem a escolha, ou seja, a natureza possibilitou ao homem ser um agente livre, pois<br />

enquanto um animal “escolhe ou rejeita por instinto” (ROUSSEAU, 1983, p.242) o homem<br />

escolhe ou rejeita “por um ato <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>” (ROUSSEAU, 1983, p. 243). Assim completa<br />

Rousseau:<br />

Um pombo morreria <strong>de</strong> fome perto <strong>de</strong> um prato das melhores carnes e um<br />

gato sob um monte <strong>de</strong> frutas ou sementes, embora tanto um quanto outro<br />

pu<strong>de</strong>ssem alimentar-se muito bem com o alimento que <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nham, se fosse<br />

atila<strong>do</strong> para tentá-lo; assim os homens dissolutos se entregam a excessos<br />

que lhes causam febre e morte, porque o espírito <strong>de</strong>prava os senti<strong>do</strong>s e a<br />

vonta<strong>de</strong> ainda fala quan<strong>do</strong> a natureza se cala (ROUSSEAU, 1983, p. 243).<br />

Nessa passagem Rousseau diferencia bem a natureza <strong>do</strong> animal que é conforma<strong>do</strong><br />

aos <strong>de</strong>sígnios <strong>de</strong> sua espécie e a natureza humana. Um pombo ou um gato, mesmo prestes a<br />

morrerem <strong>de</strong> fome não se aventuram a comer o que não está prescrito para sua espécie,<br />

embora se tentassem po<strong>de</strong>riam sobreviver. O mesmo não ocorre com o homem, que por ser<br />

livre po<strong>de</strong> lançar-se ao <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong>, inclusive po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> se entregar a excessos, o que lhe é<br />

prejudicial. O homem também está submeti<strong>do</strong> às regras da natureza: “a natureza manda em<br />

to<strong>do</strong>s os animais, e a besta obe<strong>de</strong>ce. O homem sofre a mesma influência, mas consi<strong>de</strong>ra-se<br />

livre para concordar ou resistir, e é sobretu<strong>do</strong> na consciência <strong>de</strong>ssa liberda<strong>de</strong> que se mostra a<br />

espiritualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua alma”(ROUSSEAU, 1983, p. 243). Essa faculda<strong>de</strong> humana <strong>de</strong> dirigir-se<br />

po<strong>de</strong> ser prejudicial ao homem, porque sem conhecer seus limites po<strong>de</strong>rá dirigir-se para o que<br />

lhe é nocivo, e nesse senti<strong>do</strong> a liberda<strong>de</strong> é negativa.

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