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jaqueline fátima roman fundamentos de legitimidade do ... - Unioeste

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26<br />

1.1.2 Pieda<strong>de</strong><br />

A pieda<strong>de</strong> 19 po<strong>de</strong>ria ser consi<strong>de</strong>rada como a repugnância inata ao ver sofrer. A<br />

pieda<strong>de</strong> natural seria um movimento da própria natureza que faz com que o homem, e até<br />

mesmo alguns animais pa<strong>de</strong>çam ao ver sofrer seus semelhantes. Não se trata <strong>de</strong> uma ação que<br />

passa pelo crivo da razão, mas sim <strong>de</strong> um sentimento anterior a ela: “tal o movimento puro da<br />

natureza, anterior a qualquer reflexão; tal a força da pieda<strong>de</strong> natural que até os costumes mais<br />

<strong>de</strong>prava<strong>do</strong>s tem dificulda<strong>de</strong> em <strong>de</strong>struir” (ROUSSEAU, 1983, p. 253). O próprio Rousseau<br />

conceitua o que enten<strong>de</strong> pela pieda<strong>de</strong> natural:<br />

Falo da pieda<strong>de</strong>, disposição conveniente a seres tão fracos e sujeitos a<br />

tantos males como o somos; virtu<strong>de</strong> tanto mais universal e tanto mais útil no<br />

homem quanto nele prece<strong>de</strong> ao uso <strong>de</strong> qualquer reflexão e tão universal que<br />

as próprias bestas, às vezes são <strong>de</strong>la alguns sinais perceptíveis. Sem falar da<br />

ternura das mães pelos filinhos e <strong>do</strong>s perigos que enfrentam para garantilos,<br />

comumente se observa a repugnância que tem um cavalo ao pisar em<br />

um ser vivo. Um animal não passa sem inquietação ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> um animal<br />

morto <strong>de</strong> sua espécie; há alguns que lhe dão uma espécie <strong>de</strong> sepultura, e os<br />

mugi<strong>do</strong>s tristes <strong>do</strong> ga<strong>do</strong> entran<strong>do</strong> no mata<strong>do</strong>uro exprimem a impressão que<br />

tem <strong>do</strong> horrível espetáculo que o impressiona (ROUSSEAU, 1983, p. 253).<br />

Essa paixão natural, não somente ao homem como também a alguns animais, faz<br />

com que se coloque no lugar <strong>do</strong> outro, no lugar daquele que sofre. “A pitié apresenta-se,<br />

simultaneamente, portanto, como a mais privada e imediata das paixões e a paixão capaz <strong>de</strong><br />

produzir, pela mediação a alterida<strong>de</strong>” (GARCIA, 1999, p. 204).<br />

Rousseau afirma que da pieda<strong>de</strong> natural, outros sentimentos surgem: “com efeito,<br />

que são a generosida<strong>de</strong>, a clemência, a humanida<strong>de</strong>, senão a pieda<strong>de</strong> aplicada aos fracos, aos<br />

culpa<strong>do</strong>s ou a espécie humana em geral?” (ROUSSEAU, 1983, p. 254). Essa paixão, segun<strong>do</strong><br />

o nosso autor, está mais fortemente presente no esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> natureza <strong>do</strong> que propriamente no<br />

esta<strong>do</strong> social. “Sentimento obscuro e vivo no homem selvagem, <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>, mas fraco no<br />

homem social” (ROUSSEAU, 1983, p. 254). No esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> natureza o homem é racional, mas<br />

esse não é um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> raciocínio, é um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> sentimentos, e <strong>de</strong>ntre esses sentimentos a<br />

19 “Se nossas escolhas são feitas sempre a partir das paixões que já amamos, o teatro apenas purga as paixões que<br />

não temos e fomenta as que temos, só reforça o que a natureza e os costumes inculcaram no coração <strong>do</strong> homem.<br />

É a pitié -sentimento inato-, e não a sua educação, o que “sustenta” nosso interesse e sentimento <strong>de</strong> compaixão<br />

para com nossos semelhantes. Mais ainda: a distância produzida entre a realida<strong>de</strong> e sua representação permite<br />

que tomemos sem dificulda<strong>de</strong> o parti<strong>do</strong> <strong>do</strong> justo, <strong>do</strong> bom e <strong>do</strong> belo” (GARCIA, 1999, p. 37).

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