jaqueline fátima roman fundamentos de legitimidade do ... - Unioeste
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princípio, é fácil ver como po<strong>de</strong>mos dirigir para o bem ou para o mal todas<br />
as paixões das crianças e <strong>do</strong>s homens (ROUSSEAU, 2004, p. 289-90).<br />
Quan<strong>do</strong> o homem passou a viver em socieda<strong>de</strong> e passou a observar e a ser<br />
observa<strong>do</strong>, passou a comparar-se com os <strong>de</strong>mais: “começaram a apreciar-se mutuamente e se<br />
lhes formou no espírito a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração, cada um preten<strong>de</strong>u ter direito a ela e a<br />
ninguém foi possível <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> tê-la impunemente” (ROUSSEAU, 1983, p. 263). Quan<strong>do</strong> o<br />
homem não se relacionava, e não mantinha vínculos, não observava aos <strong>de</strong>mais, porque não<br />
mantinha com eles relações e suas paixões eram limitadas: “Nossas paixões naturais são<br />
muito limitadas 31 , são os instrumentos <strong>de</strong> nossa liberda<strong>de</strong>, ten<strong>de</strong>m a nos conservar. Todas as<br />
paixões que nos subjugam e nos <strong>de</strong>stroem vêm-nos <strong>de</strong> outra parte” (ROUSSEAU, p. 287).<br />
A convivência social faz com que o homem passe além <strong>de</strong> observar-se<br />
conscientemente, a observar os <strong>de</strong>mais <strong>de</strong> sua espécie, e <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong>, comparações são<br />
inevitáveis: Enquanto que no esta<strong>do</strong> natural “cada homem, em particular, olha para si mesmo<br />
como único especta<strong>do</strong>r que se observa no esta<strong>do</strong> social ele percebe os <strong>de</strong>mais” (SALINAS<br />
FORTES, 1997, p. 58).<br />
Cada um começou a olhar os outros e a <strong>de</strong>sejar se ele próprio olha<strong>do</strong>, passan<strong>do</strong><br />
assim a estima pública a ter um preço. Aquele que cantava ou dançava melhor, o<br />
mais belo, o mais forte, o mais astuto ou o mais eloqüente, passou a ser o mais<br />
consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> e esse foi o primeiro passo para a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> quanto para o vício;<br />
<strong>de</strong>ssas primeiras preferências nasceram <strong>de</strong> um la<strong>do</strong> a vaida<strong>de</strong> e o <strong>de</strong>sprezo, e <strong>de</strong><br />
outro, a vergonha e a inveja. A fermentação <strong>de</strong>terminada por esses novos germes<br />
produziu, por fim, compostos funestos, à felicida<strong>de</strong> e à inocência (ROUSSEAU,<br />
1983, p. 263).<br />
Depois que o homem passou a conviver, surgiu em si a noção <strong>de</strong> reconhecimento.<br />
“Digamos que a força <strong>do</strong> ambiente (natural ou social) sobre o homem é a necessida<strong>de</strong>, e a<br />
reação <strong>do</strong> homem sobre o ambiente são as paixões artificiais que surgem a partir da<br />
convivência social <strong>do</strong>s homens” (MONTEAGUDO, p. 30). O homem reagiu ao novo<br />
ambiente <strong>de</strong> forma a <strong>de</strong>senvolver paixões artificiais: o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ser bem visto pelos <strong>de</strong>mais, e<br />
quan<strong>do</strong> esse <strong>de</strong>sejo por reconhecimento não era correspondi<strong>do</strong>, o homem se julgava ultraja<strong>do</strong><br />
pelo <strong>de</strong>sprezo alheio: “eis como, cada um punin<strong>do</strong> o <strong>de</strong>sprezo que lhe dispensavam<br />
proporcionalmente à importância que se atribuía, as vinganças tornaram-se tremendas e os<br />
homens sanguinários e cruéis” (ROUSSEAU, 1983, p. 263).<br />
O gênero humano não teria <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> <strong>de</strong> ser bem miserável, se não tivesse<br />
estabeleci<strong>do</strong> a socieda<strong>de</strong> civil, mas é nessa socieda<strong>de</strong> que o amor <strong>de</strong> si se torna amor próprio,<br />
31 “amor <strong>de</strong> si, o temor da <strong>do</strong>r, o horror à morte e o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> bem estar” (Emílio Livro V).