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jaqueline fátima roman fundamentos de legitimidade do ... - Unioeste

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humana. Assim, como o homem busca em si o que é bom, e quer o que é bom, é constituída a<br />

bonda<strong>de</strong> natural 23 em Rousseau.<br />

O homem que faz a outrem o que gostaria que fosse feito a si, é o homem apto a<br />

pensar no bem comum e na finalida<strong>de</strong> pública, é esse o homem apto para expressar o direito<br />

político em Rousseau, aquele que é capaz <strong>de</strong> viver em socieda<strong>de</strong>, que faz ao outro apenas que<br />

gostaria que lhe fosse feito e que age segun<strong>do</strong> a máxima: “alcança o teu bem com o menor<br />

mal possível para outrem” (ROUSSEAU, 1983, p. 254).<br />

1.1.3 Amor <strong>de</strong> si<br />

Rousseau ainda no início da segunda parte <strong>do</strong> Discurso sobre a<br />

Desigualda<strong>de</strong> informa que “o primeiro sentimento <strong>do</strong> homem foi o da sua existência, sua<br />

primeira preocupação o <strong>de</strong> sua conservação” (ROUSSEAU, 1983, p. 260). No Emílio, ensina<br />

que “é preciso que nos amemos para nos conservarmos é preciso que nos amemos mais <strong>do</strong><br />

que qualquer outra coisa, e, por uma conseqüência imediata <strong>do</strong> mesmo sentimento amamos o<br />

que nos conserva” (ROUSSEAU, 2004, p. 289). Assim, o sentimento que é responsável pela<br />

23 “Se a bonda<strong>de</strong> moral estiver em conformida<strong>de</strong> com nossa natureza, o homem só po<strong>de</strong>rá ser são e bem<br />

constituí<strong>do</strong> na medida em que for bom. Se não houver essa conformida<strong>de</strong> e o homem for naturalmente mau, não<br />

po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> sê-lo sem se corromper. A bonda<strong>de</strong> seria nele apenas um vício contra a natureza: feito para<br />

causar dano a seus semelhantes, como o lobo para <strong>de</strong>golar sua presa, um homem humano seria um animal tão<br />

perverti<strong>do</strong> quanto um lobo pie<strong>do</strong>so, e a virtu<strong>de</strong> nada nos <strong>de</strong>ixaria senão remorsos. Acreditais que existe no<br />

mun<strong>do</strong> uma questão mais fácil <strong>de</strong> se resolver? Bastaria apenas voltarmos para nós mesmos e examinar, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> la<strong>do</strong> o interesse pessoal, em qual direção nos conduzem nossas inclinações naturais. Qual é o espetáculo que<br />

mais nos seduz: o <strong>do</strong>s tormentos ou da felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> outrem? Qual é a ação mais agradável <strong>de</strong> realizar e que nos<br />

<strong>de</strong>ixa melhor impressão após ter si<strong>do</strong> feita: um ato <strong>de</strong> beneficência ou um ato <strong>de</strong> malda<strong>de</strong>? Por quem vos<br />

interessais em vossos teatros: é nos crimes que encontrais prazer, é pelos criminosos puni<strong>do</strong>s que verteis<br />

lágrimas? Entre o herói infeliz e o tirano triunfante, <strong>de</strong> qual <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is vossos <strong>de</strong>sejos secretos não cessam <strong>de</strong> dar<br />

preferência e a tal ponto o horror <strong>de</strong> fazer o mal sobrepuja naturalmente em nós o horror <strong>de</strong> suportá-lo, que<br />

força<strong>do</strong> a escolher, quem <strong>de</strong> vós não preferiria ser antes o bom que sofre que o mau que prospera? Quan<strong>do</strong><br />

vemos na rua ou no caminho algum ato <strong>de</strong> violência ou <strong>de</strong> injustiça, no mesmo instante um movimento <strong>de</strong> cólera<br />

e indignação se eleva <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> coração e nos leva a tomar a <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> oprimi<strong>do</strong>, mas um <strong>de</strong>ver mais po<strong>de</strong>roso<br />

nos contém, e as leis nos privam <strong>do</strong> direito <strong>de</strong> proteger a inocência. Ao contrário, se algum ato <strong>de</strong> clemência ou<br />

generosida<strong>de</strong> chega a nossos olhos, que admiração, que amor nos inspira! Quem não diz a si mesmo: gostaria <strong>de</strong><br />

ter agi<strong>do</strong> da mesma forma? Mesmo as almas mais corrompidas não conseguiram per<strong>de</strong>r completamente essa<br />

primeira inclinação: o ladrão que <strong>de</strong>spoja os passantes cobre, entretanto a nu<strong>de</strong>z <strong>do</strong> pobre, não há assassino feroz<br />

que não sustente um homem que cai <strong>de</strong>sfaleci<strong>do</strong>, e os próprios malfeitores, ao fazerem seus conluios, apertam as<br />

mãos, dão sua palavra e a respeitam. “Homem perverso, por mais que faças, não vejo em ti senão um malfeitor<br />

inconseqüente e <strong>de</strong>sajeita<strong>do</strong>, pois a natureza não te fez para ser assim” (ROUSSEAU, 2005, p. 163-4).

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