30.10.2014 Views

jaqueline fátima roman fundamentos de legitimidade do ... - Unioeste

jaqueline fátima roman fundamentos de legitimidade do ... - Unioeste

jaqueline fátima roman fundamentos de legitimidade do ... - Unioeste

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

18<br />

qualquer mudança nesta condição imaginária ou <strong>de</strong> <strong>de</strong>ver ser. Embora as<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s estejam presentes nas características físicas ou mentais <strong>do</strong>s<br />

homens, elas não <strong>de</strong>sigualam, porque a condição que <strong>de</strong>screve o homem<br />

natural apenas o consi<strong>de</strong>ra em si mesmo ou em relação genérica com a<br />

espécie. As <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais <strong>de</strong>sigualam porque o homem é<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>, efetivamente, em meio às condições em que ela po<strong>de</strong> ser<br />

efetivamente percebida. As <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s morais e políticas – produzidas<br />

artificialmente – são efetivamente “negativas” e, só se tornaram possíveis<br />

na condição das instituições sociais. Condição produzida pela conjugação<br />

das várias capacida<strong>de</strong>s distintivas <strong>do</strong> homem: a liberda<strong>de</strong>, a perfectibilida<strong>de</strong>,<br />

as paixões, o engenho, os talentos, as circunstâncias geográficas, climáticas,<br />

os acasos e, sobretu<strong>do</strong>, a pressão conjunta <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s esses fatores exercida<br />

num <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> momento da história humana (GARCIA, 1999, p. 102).<br />

No esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> natureza o homem não necessita <strong>de</strong> outro, e como não há<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> relacionar-se não existe a submissão, a violência, a hierarquia, a luta pelo<br />

po<strong>de</strong>r. Nesse Esta<strong>do</strong>, o homem não conhece a ira <strong>de</strong> seu semelhante, não sabe o que significa<br />

as palavras escravidão, déspota, tirania, e <strong>de</strong>sta forma, mantém-se livre, e pelo fato <strong>de</strong> não<br />

conviver, não se aprisiona. “O que caracteriza o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> natureza, segun<strong>do</strong> Rousseau, é a<br />

transparência, a satisfação imediata <strong>de</strong> todas as necessida<strong>de</strong>s e, com isso, ausência total <strong>de</strong><br />

obstáculos e <strong>de</strong> conflitos” (MONTEAGUDO, p. 29).<br />

Desta forma, pela ausência <strong>de</strong> convivência no esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> natureza, não há que se<br />

falar, nesse esta<strong>do</strong>, em política ou em direito político. Rousseau sequer menciona uma<br />

potencialida<strong>de</strong> para tanto. “Não há, portanto proprieda<strong>de</strong>, nem injúria, no esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> natureza,<br />

e Rousseau apropria-se da célebre fórmula <strong>de</strong> Hobbes: Natura <strong>de</strong>dit unicuique jus in omnia 14 ”<br />

(DERATHE, 2009, p. 170).<br />

Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> pensamento <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> natureza ocorre<br />

quase em totalida<strong>de</strong> no Segun<strong>do</strong> Discurso, e que esta obra tem como objetivo respon<strong>de</strong>r a<br />

aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Dijon à pergunta sobre a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, o foco <strong>de</strong> Rousseau naquele momento<br />

não era dissertar acerca <strong>do</strong> direito político. O Segun<strong>do</strong> Discurso objetivou analisar a origem<br />

da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>tectar seu motivo e contrapô-la com a or<strong>de</strong>m natural, sem tentar<br />

estabelecer uma hipótese para solucionar tal problema, ou tratar <strong>do</strong> direito político em si.<br />

Concluída a análise <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> natureza e suas características, passa-se à análise<br />

da liberda<strong>de</strong> natural. Rousseau inicia o Capítulo 1 da obra Do Contrato Social tratan<strong>do</strong><br />

justamente da liberda<strong>de</strong> com uma <strong>de</strong> suas frases mais conhecidas: “o homem nasce livre, e<br />

por toda a parte se encontra a ferros. O que se crê senhor <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser mais<br />

escravo <strong>do</strong> que eles” (ROUSSEAU, 1983, p. 22). Dizer que o homem nasce livre é afirmar<br />

14 Traduzi<strong>do</strong> livremente significa: A natureza <strong>de</strong>u a cada um o direito sobre todas as coisas.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!