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jaqueline fátima roman fundamentos de legitimidade do ... - Unioeste

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50<br />

O homem se aprisiona no esta<strong>do</strong> social, porque não po<strong>de</strong> ser in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong>mais (já não tem a mesma disposição e o mesmo vigor <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> natural para ser<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte) e pelo fato <strong>de</strong> não perceber tal situação, ou se percebe, não sabe o que fazer<br />

para remediá-la, passa a submeter-se aos <strong>de</strong>sígnios <strong>de</strong> uma convivência social para a qual não<br />

estava prepara<strong>do</strong>, pois no entendimento <strong>de</strong> Rousseau a natureza humana não estaria inclinada<br />

para a sociabilida<strong>de</strong>.<br />

Assim, não há aqui uma ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong> homem para restabelecer a liberda<strong>de</strong> que está<br />

sen<strong>do</strong> perdida, através da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> que está se instalan<strong>do</strong>. Nota-se que o esta<strong>do</strong> natural<br />

era <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong> que após o advento <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> social, ela se manifesta. No esta<strong>do</strong><br />

natural, não havia necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> reconhecimento alheio, nesse esta<strong>do</strong> sequer existia a noção<br />

<strong>de</strong> comparação. No esta<strong>do</strong> social, no entanto, o homem passa a comparar-se com os <strong>de</strong>mais,<br />

sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>sejoso <strong>do</strong> mesmo, ou <strong>de</strong> um melhor reconhecimento que outros <strong>de</strong> sua espécie têm.<br />

Quan<strong>do</strong> esse reconhecimento, <strong>do</strong> qual o homem se julga merece<strong>do</strong>r não ocorre, surge uma<br />

ativida<strong>de</strong> reativa ao que se julgou preteri<strong>do</strong>. A idéia <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração se forma no homem, que<br />

ao sentir-se <strong>de</strong>spreza<strong>do</strong> reage 34 .<br />

O homem social <strong>de</strong>senvolve suas faculda<strong>de</strong>s (aqui se manifesta plenamente a<br />

perfectibilida<strong>de</strong>), e procura consi<strong>de</strong>ração, não só acumulan<strong>do</strong> bens, mas <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> outras<br />

habilida<strong>de</strong>s a procura <strong>de</strong> mérito: “cada um que punin<strong>do</strong> o <strong>de</strong>sprezo que lhe dispensavam<br />

proporcionalmente a importância que se atribuía, as vinganças tornaram-se tremendas e os<br />

homens sanguinários e cruéis” (ROUSSEAU, 1983, p. 263).<br />

O convívio social conduz o homem a esse processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>snaturação, que implica<br />

na sua transformação <strong>de</strong> ser errante, pacífico, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, amoral, para um ser egoísta,<br />

vai<strong>do</strong>so, cruel, e <strong>de</strong>prava<strong>do</strong>. O agrupamento humano suaviza suas habilida<strong>de</strong>s naturais (força,<br />

agilida<strong>de</strong>), e se o homem primitivo conseguia sozinho enfrentar as dificulda<strong>de</strong>s apresentadas<br />

pela natureza para po<strong>de</strong>r subsistir, o homem social já não consegue mais:<br />

O homem, <strong>de</strong> livre e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte que antes era, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a uma multidão <strong>de</strong> novas<br />

necessida<strong>de</strong>s passou a estar sujeito, por assim dizer, a toda a natureza e, sobretu<strong>do</strong>,<br />

a seus semelhantes <strong>do</strong>s quais num certo senti<strong>do</strong> se torna escravo, mesmo quan<strong>do</strong> se<br />

torna senhor: rico tem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu serviços; pobre, precisa <strong>de</strong> seu socorro, e<br />

a mediocrida<strong>de</strong> não o coloca em situação <strong>de</strong> viver sem eles (ROUSSEAU, 1983, p.<br />

267).<br />

O <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> reconhecimento faz com que o homem se preocupe em cada vez mais<br />

obter para si o que antes era <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s, não pelo trabalho, mas sim pela apropriação pura e<br />

34 Nesse senti<strong>do</strong> ver o item 1.1.6 sobre o amor próprio

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