jaqueline fátima roman fundamentos de legitimidade do ... - Unioeste
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pieda<strong>de</strong> ou comiseração está fortemente <strong>de</strong>senvolvida. O esta<strong>do</strong> civil, por sua vez é um esta<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> reflexão e raciocínio, e nele o amor-próprio, faz com que o homem volte-se mais para si <strong>do</strong><br />
que para o outro. É justamente isso que Rousseau preten<strong>de</strong> evitar através <strong>de</strong> seu direito<br />
político. O objetivo da arte política para Rousseau se esclarece: trata-se <strong>de</strong> fortalecer a<br />
pieda<strong>de</strong> 20 natural e enfraquecer o egoísmo <strong>do</strong> amor-próprio. Dissertan<strong>do</strong> sobre a pieda<strong>de</strong>,<br />
Monteagu<strong>do</strong>:<br />
Trata-se <strong>de</strong> um principio que amansa a ferocida<strong>de</strong> <strong>do</strong> amor-próprio antes <strong>de</strong><br />
seu surgimento, isto é, a exemplo da perfectibilida<strong>de</strong> que abrange a<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da razão, a pieda<strong>de</strong> no homem (<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à<br />
liberda<strong>de</strong>) também participa da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
sociabilida<strong>de</strong> (e, por conseguinte, da moralida<strong>de</strong>) (2006, p. 31).<br />
A pieda<strong>de</strong> natural nunca aban<strong>do</strong>na o homem, está presente em to<strong>do</strong>s os esta<strong>do</strong>s. A<br />
pieda<strong>de</strong> nasce no coração humano “A precedência da pitié, cujo lugar é o coração <strong>do</strong> homem”<br />
(MACHADO, 1968 p. 101). A<strong>de</strong>mais, ao conceber a existência <strong>de</strong> uma pieda<strong>de</strong> natural,<br />
“repugnância inata ao ver sofrer seu semelhante”, Rousseau a <strong>de</strong>fine como impulso natural,<br />
incoercível, irracional, amoral. É no coração humano que ela permanece in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />
<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> (natural ou social).<br />
No esta<strong>do</strong> social, a pieda<strong>de</strong> é responsável por fazer com que o homem pense<br />
menos em si, e consiga colocar-se no lugar <strong>de</strong> seu semelhante, o que facilita a convivência<br />
social. A pieda<strong>de</strong> amansa o homem, que se torna generoso compassivo através <strong>de</strong>la.<br />
A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transportar-se para fora <strong>de</strong> si e <strong>de</strong> colocar no lugar <strong>do</strong> outro<br />
é um <strong>do</strong>s traços essenciais da condição humana. A pitié é a paixão, virtu<strong>de</strong><br />
natural, que, junto às outras faculda<strong>de</strong>s, possibilitam a vida em comum. Sua<br />
virtualida<strong>de</strong> se realiza no momento em que o homem estreita os laços com<br />
seus parceiros [...] isso significa que a pitié tem a ver com a catarse e com a<br />
imitação, na medida em que cada uma <strong>de</strong>las permite uma “mudança <strong>de</strong><br />
lugar”, um <strong>de</strong>slocamento para on<strong>de</strong> não existe coincidência entre a coisa<br />
mesma e sua representação (GARCIA, p. 203).<br />
A pieda<strong>de</strong> funciona como se existisse um canal aberto <strong>de</strong> resgate <strong>de</strong> um<br />
sentimento que estaria presente no esta<strong>do</strong> natural. O fato da pieda<strong>de</strong> estar presente tanto no<br />
20 “Daí que parece plausível instalar a pitié no núcleo <strong>do</strong>s conceitos críticos <strong>de</strong>cisivos <strong>de</strong> Rousseau. Destacar que,<br />
por ser uma paixão que atravessa o esta<strong>do</strong> fictício e o real, apresenta-se apta para fazer a mediação entre o lugar<br />
abstrato conceitual em que circulam os conceitos centrais da crítica e as experiências efetivas <strong>do</strong> homem em<br />
socieda<strong>de</strong>. Escreven<strong>do</strong> <strong>de</strong> outro mo<strong>do</strong>: a pitié é essencial para sustentar a crítica porque é uma paixão natural que<br />
atravessa a ficção e a realida<strong>de</strong>. Se ela é virtual no esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> natureza, é, no entanto, essencial para a <strong>de</strong>scrição”<br />
(Garcia, 1999, p. 194).