30.10.2014 Views

jaqueline fátima roman fundamentos de legitimidade do ... - Unioeste

jaqueline fátima roman fundamentos de legitimidade do ... - Unioeste

jaqueline fátima roman fundamentos de legitimidade do ... - Unioeste

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

56<br />

Para respon<strong>de</strong>r às questões propostas, Rousseau quer tomar os homens como são e<br />

as leis como po<strong>de</strong>m ser, e partin<strong>do</strong> <strong>de</strong>sse pressuposto escreve o Do Contrato Social. Na<br />

referida obra, Rousseau elabora sua teoria contratualista, fazen<strong>do</strong> nascer o que consi<strong>de</strong>ra ser o<br />

direito político, que possui várias formas <strong>de</strong> interpretação 39 . O que Rousseau percebe muito<br />

bem é a diferença que existe entre a constituição <strong>do</strong>s homens e a forma como eles vivem. Para<br />

Rousseau qualquer forma <strong>de</strong> <strong>do</strong>minação <strong>de</strong> um homem sobre outro, mesmo que consentida, é<br />

nula e ilegítima. Para ele um homem não po<strong>de</strong> ser <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> por outro, não po<strong>de</strong> renunciar a<br />

sua liberda<strong>de</strong>, porque renunciaria a sua própria condição humana. Em contrapartida a essa<br />

constatação, Rousseau percebeu que a vida social estava repleta <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> <strong>do</strong>minações,<br />

<strong>de</strong> escravidão, <strong>de</strong> homens livres que concordam em se submeter à autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um rei, ou <strong>de</strong><br />

um soberano arbitrário, o que para ele era inadmissível: Nos Diálogos, Rousseau <strong>de</strong>clara que<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua juventu<strong>de</strong> e, antes mesmo <strong>de</strong> ter composto o Primeiro Discurso, “ele entrevia uma<br />

secreta oposição entre a constituição <strong>do</strong> homem e <strong>de</strong> nossas socieda<strong>de</strong>s” (DERATHE, 2009,<br />

p. 97).<br />

Assim, Rousseau ao escrever o Contrato Social propõe uma nova forma <strong>de</strong> se<br />

interpretar as relações sociais. Não é o Do Contrato Social uma obra <strong>de</strong> protesto: “Vê-lo<br />

como uma exposição <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> reformas ou um ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> reivindicações seria,<br />

portanto, falsear o espírito da obra. Rousseau sempre se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u <strong>de</strong> ter escrito um libelo e<br />

não quer ser confundi<strong>do</strong> com um agita<strong>do</strong>r político” (DERATHE, p. 103).<br />

Rousseau visava contrapor sua forma <strong>de</strong> ver o direito político 40 a <strong>de</strong> pensa<strong>do</strong>res 41<br />

renoma<strong>do</strong>s e respeita<strong>do</strong>s à época, mas que utilizavam <strong>de</strong> seus conhecimentos para legitimar<br />

po<strong>de</strong>res políticos arbitrários que forçavam o homem a obe<strong>de</strong>cer autorida<strong>de</strong>s que não po<strong>de</strong>riam<br />

39 “Uns escrevia em 1914 Giorge Del Vecchio, vêem em Rousseau o <strong>de</strong>fensor da vonta<strong>de</strong> to<strong>do</strong>-po<strong>de</strong>rosa <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong>, o teórico <strong>do</strong> absolutismo, eu teria sacrifica<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o traço da liberda<strong>de</strong> individual ao <strong>do</strong>gma da soberania<br />

<strong>do</strong> povo, chegan<strong>do</strong>, ao menos virtualmente, até a negação da proprieda<strong>de</strong> privada; outros vêem nele o pai da<br />

<strong>de</strong>mocracia constitucional e <strong>do</strong> liberalismo mo<strong>de</strong>rno, aquele que reivindica os direitos fundamentais <strong>do</strong> cidadão,<br />

o individualista por excelência, que, abolin<strong>do</strong> toda autorida<strong>de</strong>, teria da<strong>do</strong> ao Esta<strong>do</strong> a base atomística da vonta<strong>de</strong><br />

mutável <strong>do</strong>s indivíduos. A um título ou a outro, segun<strong>do</strong> uma ou outra <strong>de</strong>ssas interpretações (com freqüência,<br />

compreendidas muito superficialmente) vemos Rousseau tanto exalta<strong>do</strong> e glorifica<strong>do</strong> quanto combati<strong>do</strong> e mesmo<br />

vilipendia<strong>do</strong> com uma violência <strong>de</strong> paixão sem igual na história da filosofia política, pois estudamos e<br />

discutimos Aristóteles, Grotius, Hobbes, Espinosa, Locke, Montesquieu, mas Rousseau, ou amamos ou<br />

odiamos” (DERATHÈ, 2009, p. 31).<br />

40 “O direito político é o sustentáculo <strong>do</strong>s atos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r institutivos e organizacionais que dão à existência<br />

humana um caráter público” (GOYARD-FABRE, 2002, p. 307).<br />

41 “Assim como num capítulo importante <strong>do</strong> Manuscrito <strong>de</strong> Genebra, consagra<strong>do</strong> em gran<strong>de</strong> parte à refutação<br />

<strong>do</strong>s jurisconsultos e outras pessoas pagas para fazer o povo crer que a escravidão, a tirania e a conquista são<br />

legítimas. Esta fora <strong>de</strong> dúvida que é contra os jurisconsultos que ele preten<strong>de</strong> escrever, pois estes só <strong>de</strong>ram<br />

“falsas noções <strong>do</strong> laço social” e falsos “princípios <strong>do</strong> direito político” (DERATHE, 2009, p. 95).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!