jaqueline fátima roman fundamentos de legitimidade do ... - Unioeste
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42<br />
espécie. Os homens conseguem adaptarem-se a vida social, porque possuem em<br />
potencialida<strong>de</strong> a capacida<strong>de</strong> para <strong>de</strong>senvolverem a sociabilida<strong>de</strong>. Nas Cartas Escritas da<br />
Montanha, Rousseau <strong>de</strong>screve quais são os sentimentos que consi<strong>de</strong>ra inatos, e faz uma<br />
importante afirmação sobre a potencialida<strong>de</strong> social natural <strong>do</strong> homem, quan<strong>do</strong> afirma:<br />
Para nós, existir é sentir, e nossa sensibilida<strong>de</strong> é incontestavelmente anterior<br />
a nossa própria razão. Qualquer que seja a causa <strong>de</strong> nossa existência, ela<br />
proveu a nossa conservação ao dar-nos sentimentos conforme à nossa<br />
natureza, e não se po<strong>de</strong>ria negar que ao menos estes sejam inatos. Tais<br />
sentimentos, em relação ao indivíduo, são o amor a si mesmo, o me<strong>do</strong> da<br />
<strong>do</strong>r e da morte e o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> bem-estar. Mas se, como não se po<strong>de</strong> duvidar o<br />
homem é um animal sociável por sua natureza, ou, pelo menos feito para<br />
tornar-se tal ele não po<strong>de</strong> sê-lo senão em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> outros sentimentos<br />
inatos relativos à sua espécie. E é <strong>do</strong> sistema moral forma<strong>do</strong> por essa dupla<br />
relação consigo mesmo e com seus semelhantes que nasce o impulso natural<br />
da consciência (ROUSSEAU, 2005, CARTA 5, p. 166).<br />
O homem virtual, <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> natural, não manifesta qualquer inclinação para a vida<br />
social, e tem por uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sobrevivência <strong>de</strong> aproximar-se <strong>de</strong> seu semelhante para<br />
po<strong>de</strong>r dar continuida<strong>de</strong> à sua espécie. Segun<strong>do</strong> Rousseau, o homem não se aproximou<br />
voluntariamente. A aproximação humana não passou pelo querer, foi uma ação natural,<br />
através <strong>do</strong>s reveses da natureza que agrupou a espécie e obrigou o homem a partir <strong>de</strong> então<br />
conviver. Dessa aproximação humana surge uma espécie <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> primitiva, que é<br />
esclarecida por Salinas Fortes nos seguintes termos: “Nesse primeiro perío<strong>do</strong>, o homem ainda<br />
não atingiu o esta<strong>do</strong> propriamente social, mas já afasta<strong>do</strong> <strong>do</strong> equilíbrio estático primitivo,<br />
resvalou para uma condição na qual é empurra<strong>do</strong> gradativamente para a socieda<strong>de</strong>”<br />
(SALINAS FORTES, 1989, p. 60).<br />
Gran<strong>de</strong>s inundações ou tremores <strong>de</strong> terras cercaram <strong>de</strong> águas ou <strong>de</strong> precipícios<br />
algumas terras habitadas; revoluções <strong>do</strong> globo separaram e cortaram em ilhas<br />
porções <strong>do</strong> continente. Concebe-se que entre os homens assim aproxima<strong>do</strong>s e<br />
obriga<strong>do</strong>s a viverem juntos. (ROUSSEAU, 1983, p. 263).<br />
Esse homem hipotético <strong>de</strong>sse primeiro perío<strong>do</strong>, ou <strong>de</strong> uma primeira fase rumo à<br />
convivência social, vivencia um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> transição (que não é esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> natureza, e também<br />
não é esta<strong>do</strong> social), nesse esta<strong>do</strong> ainda não existe a socieda<strong>de</strong>, mas tão-só uma forma <strong>de</strong><br />
associação: “este é então o primeiro momento neste perío<strong>do</strong> e po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> como o das<br />
associações livres: nele vemos o esboço ou o germe <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong>” (SALINAS FORTES,<br />
1989, p. 61).