30.10.2014 Views

jaqueline fátima roman fundamentos de legitimidade do ... - Unioeste

jaqueline fátima roman fundamentos de legitimidade do ... - Unioeste

jaqueline fátima roman fundamentos de legitimidade do ... - Unioeste

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

64<br />

etapas são suprimidas, e não são abordadas por Rousseau, uma <strong>de</strong>las é a da questão da<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> compromisso livre <strong>do</strong> homem (prisioneiro social) para po<strong>de</strong>r pactuar. Mas ele<br />

advertia àqueles a quem seria preciso tu<strong>do</strong> dizer, que não o lessem!<br />

Para Rousseau somente o consentimento 49 e a convenção são capazes <strong>de</strong> produzir<br />

um pacto civil legítimo. O compromisso livre <strong>de</strong> cada pactuante é a condição sine qua non<br />

para o pacto, que não po<strong>de</strong> ser fundamenta<strong>do</strong> na força (porque para Rousseau a força não<br />

produz direito) e nem em Deus. É no po<strong>de</strong>r <strong>do</strong> consentimento e da obrigação convencional<br />

que se fundamenta a legitimida<strong>de</strong> <strong>do</strong> pacto. “Não é preciso remontar a Deus para encontrar<br />

sua fonte, pois ela tem sua origem e seu fundamento nas convenções” (DERATHE; 2009 p.<br />

78). Todas as socieda<strong>de</strong>s se dão por convenção, exceto a família, quan<strong>do</strong> os filhos ainda não<br />

possuem capacida<strong>de</strong> para consentir, e para proverem suas próprias necessida<strong>de</strong>s.<br />

No pensamento <strong>de</strong> Rousseau a única socieda<strong>de</strong> natural 50<br />

é a família “A mais<br />

antiga <strong>de</strong> todas as socieda<strong>de</strong>s, e a única natural é a família; ainda assim só pren<strong>de</strong>m os filhos<br />

ao pai enquanto <strong>de</strong>le necessitam para a sua própria conservação” (ROUSSEAU, 1983, p. 23).<br />

Ao comentar tal passagem, em nota 51 , Macha<strong>do</strong> sugere que “Em Rousseau, o conceito <strong>de</strong><br />

natural inclui o <strong>de</strong> “necessário” como no caso da família que é <strong>de</strong>corrência irremissível da<br />

necessida<strong>de</strong> instintiva” (1983, p.23).<br />

As <strong>de</strong>mais socieda<strong>de</strong>s, que não a família cujos filhos sejam necessariamente<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>do</strong>s pais, (e entenda-se aqui uma <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> sobrevivência) não são<br />

consi<strong>de</strong>radas naturais por Rousseau. Essas são <strong>de</strong>nominadas <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>s convencionais, que<br />

se estabelecem também por necessida<strong>de</strong>, mas por uma necessida<strong>de</strong> racionalizada, <strong>de</strong>terminada<br />

pela percepção <strong>de</strong> que a vida social po<strong>de</strong>ria facilitar a sobrevivência e ser vantajosa, e através<br />

<strong>de</strong> um ato voluntário as pessoas unem-se aos seus semelhantes. A convenção seria capaz,<br />

portanto, <strong>de</strong> formar uma socieda<strong>de</strong> legítima. No entanto, surge a indagação: O pacto civil<br />

49 “A exigência <strong>do</strong> consentimento para legitimar o pacto social <strong>de</strong>monstra a necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> individualismo <strong>de</strong><br />

cada pactuante: “traços <strong>do</strong> individualismo subsistem mesmo no Contrato social, no qual reencontramos, em<br />

particular, a idéia tão cara a Locke <strong>de</strong> que somente o consentimento daqueles que se submetem po<strong>de</strong> tornar<br />

legítima a autorida<strong>de</strong> política” (DERATHE, 2009, p. 185-86).<br />

50 Nesse senti<strong>do</strong> Lourival Gomes Macha<strong>do</strong> explica o significa<strong>do</strong> da expressão natural: “Se Rousseau começa<br />

afirman<strong>do</strong> que a mais antiga <strong>de</strong> todas as socieda<strong>de</strong>s, e a única natural, é a família, o adjetivo “natural” refere-se<br />

ao esta<strong>do</strong> natural, à natureza primária <strong>do</strong> homem, como, aliás, o confirma a breve <strong>de</strong>scrição <strong>do</strong> temporário apego<br />

instintivo <strong>do</strong>s filhos aos pais: “<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que cesse tal necessida<strong>de</strong>, o liame natural se dissolve”[...] mas o animal<br />

humano dispõe, ao menos potencialmente da razão sen<strong>do</strong>, a<strong>de</strong>mais, livre em sua vonta<strong>de</strong>. Daí po<strong>de</strong>r aperceber-se<br />

da presumível vantagem <strong>de</strong> permanecer liga<strong>do</strong> ao grupo familiar e, livremente o <strong>de</strong>sejan<strong>do</strong>, assim agir. “se<br />

continuam a permanecer uni<strong>do</strong>s, não é naturalmente, é voluntariamente; e a própria família não se mantém senão<br />

por convenção – o trecho é bastante claro para mostrar-nos que “natural”, isto é, fundamental e instintivo, se<br />

opõe a “voluntário”, isto é, a racional e livre, <strong>do</strong>n<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos concluir que a resultante “convenção” exprime<br />

não a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> qualquer regra comum estatuída explicita ou tacitamente, mas uma compreensão da situação<br />

relacional e uma ação resultante da vonta<strong>de</strong> que, coinci<strong>de</strong>ntemente comuns a muitos homens, levarão a aludida<br />

união “pelos caracteres” (MACHADO, 1968, p. 137-8).<br />

51 Nota <strong>de</strong> rodapé nº 19 (ROUSSEAU, 1983, p. 23).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!