<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseten<strong>do</strong> um contato muito ce<strong>do</strong> com a relação sexual (12 anos), sem ter alcança<strong>do</strong> overda<strong>de</strong>iro amadurecimento sexual. Pois <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com <strong>Winnicott</strong> a maturida<strong>de</strong> sexualnão está apenas ligada ao ato sexual (WINNICOTT, 1989).Na história ela fala <strong>de</strong> uma a<strong>do</strong>lescência <strong>de</strong> hoje, que é na verda<strong>de</strong> sua própriahistória <strong>de</strong> vida: “Na a<strong>do</strong>lescência <strong>de</strong> hoje em dia, a maioria das garotas estãoengravidan<strong>do</strong>, ou seja, amadurecen<strong>do</strong> muito mais <strong>do</strong> que o espera<strong>do</strong>. A partir daí elasper<strong>de</strong>m muitos benefícios e oportunida<strong>de</strong>s que a vida nos proporciona. No <strong>de</strong>senhoexpressei que em vez <strong>de</strong> amadurecermos tão rápidas <strong>de</strong>veríamos curtir mais; mas atéeu perceber isso já tinha me apressa<strong>do</strong> <strong>de</strong> mais, e hoje como “quase” mulherreconheço que o mun<strong>do</strong> nunca <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> nos oferecer oportunida<strong>de</strong>s, só <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> nósagarra-las. Não me arrepen<strong>do</strong> nem se quer um momento <strong>de</strong> ter ti<strong>do</strong> os meus filhos, poishoje sou o que sou por causa <strong>de</strong>les e me resumo como uma responsabilida<strong>de</strong>, pois fuitotalmente o contrário daqueles que me julgaram. Hoje estu<strong>do</strong> e me esforço o máximoque posso para ser bem estruturada, ou seja, alguém na vida, bem sucedida” (SIC).Assim no <strong>de</strong>correr das sessões e através <strong>do</strong> <strong>de</strong>senho história foi possívelperceber que Júlia apresenta um intenso sofrimento <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> tanto as suas constantesfrustrações (aban<strong>do</strong>no da mãe, rejeição <strong>do</strong> pai, problemas familiares, problemas com onamora<strong>do</strong>) quanto por ter como obrigação a maturida<strong>de</strong> em uma fase da vida em que aimaturida<strong>de</strong> é característica e essencial, o que a leva sentir culpa por <strong>de</strong>sejar ser imaturae por manifestar uma raiva (inconsciente) <strong>de</strong> seus filhos, já que foram eles que lheroubaram a a<strong>do</strong>lescência. Este conflito fica evi<strong>de</strong>nte em suas falas e no <strong>de</strong>senho história,pois quan<strong>do</strong> foi pedi<strong>do</strong> a ela que <strong>de</strong>senhasse o que é a<strong>do</strong>lescência, ela faz a seguintepergunta: “É pra <strong>de</strong>senhar minha a<strong>do</strong>lescência ou a que <strong>de</strong>veria ser?”.Deste mo<strong>do</strong>, po<strong>de</strong>-se pensar em um amadurecimento precoce por meio <strong>de</strong> umprocesso falso <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a uma falha ambiental, que ocorre <strong>de</strong>s<strong>de</strong> início da vida <strong>de</strong> Júlia(aban<strong>do</strong>no da mãe, rejeição <strong>do</strong> pai, maus-tratos), não oferecen<strong>do</strong> holding e nãosobreviven<strong>do</strong> aos seus ataques. Seu ambiente não enxergou suas atitu<strong>de</strong>s como umpedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> socorro o que a levou a engravidar ce<strong>do</strong> <strong>de</strong>mais, repetin<strong>do</strong> a história <strong>de</strong> suamãe biológica. Assim Júlia teve <strong>de</strong> ter o fazer antes <strong>do</strong> ser, isto é, teve seu processo <strong>de</strong>procura <strong>de</strong> si mesmo interrompi<strong>do</strong> e se tornou adulta antes da hora, que ocasiona umgran<strong>de</strong> sofrimento psíquico e uma falta <strong>de</strong> reconhecimento <strong>do</strong> que ela mesma é. Talfalta <strong>de</strong> reconhecimento é muito presente na terapia <strong>de</strong> Júlia, pois apresenta gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber o que é verda<strong>de</strong>iramente seu e o que lhe foi imposto pelo ambiente.Muitas vezes quan<strong>do</strong> indagada pela terapeuta, sobre quem é a Júlia, <strong>de</strong>monstra umUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>138
<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisediscurso externo, vin<strong>do</strong> principalmente <strong>de</strong> sua família. “To<strong>do</strong>s falam que souvagabunda, pois tenho 16 anos e <strong>do</strong>is filhos. Que me faz às vezes ficar com vergonha <strong>de</strong>contar para as pessoas que já sou mãe”. (SIC).Tal discurso externo característico <strong>do</strong> falso self foi evi<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma claraem uma das sessões, em que a terapeuta pe<strong>de</strong> para Júlia escrever em um cartaz tu<strong>do</strong>aquilo que se refere a ela, palavras que a <strong>de</strong>finem. Júlia <strong>de</strong>monstra gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>,<strong>de</strong>moran<strong>do</strong> muito tempo para realizar a ativida<strong>de</strong>. Quan<strong>do</strong> consegue, poucas palavrassão escritas, sen<strong>do</strong> elas: Família, confiança, amiza<strong>de</strong>, simpatia. Palavras que nãocorroboram com sua história e parecem mais com um i<strong>de</strong>al. No final da proposta Júliapergunta a terapeuta se o que tinha escrito estava certo, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> novamente anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma afirmação externa sobre que ela é.Tal fato reafirma a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> um falso self, se transforman<strong>do</strong> numa <strong>de</strong>fesa contra overda<strong>de</strong>iro. Trazen<strong>do</strong> gran<strong>de</strong>s implicações para a vida psíquica e para a realida<strong>de</strong>externa <strong>de</strong> Júlia. Que no <strong>de</strong>correr das sessões tem <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> uma necessida<strong>de</strong> cadavez maior <strong>de</strong> suporte por parte da terapeuta. Portanto sua terapia consiste emprovi<strong>de</strong>nciar para ela um ambiente que a permita ser. Um ambiente que suporte suasidas e vindas, permitin<strong>do</strong> que faça suas <strong>de</strong>scobertas, que se encontre <strong>de</strong> forma que apermita amadurecer por meio <strong>de</strong> um processo não falso até o verda<strong>de</strong>iro self, suportan<strong>do</strong>o risco <strong>de</strong> ser novamente feri<strong>do</strong>.ReferênciasARAÚJO, C. A. S. O ambiente em <strong>Winnicott</strong>. <strong>Winnicott</strong>. e-Prints electronic version, 4,n.1, p. 21-34, 2005.BRAGA, C. M. L. Comunicação e isolamento na a<strong>do</strong>lescência: compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o uso<strong>de</strong> blogs pelos jovens na atualida<strong>de</strong>. São Paulo: Zago<strong>do</strong>ni Editora, 2012.WINNICOTT, D. W. Tu<strong>do</strong> começa em casa. São Paulo: Martins Fontes, 2005. (trabalhooriginal publica<strong>do</strong> em 1989).WINNICOTT, D. W. O Brincar e a Realida<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago Editora, 1975.(trabalho original publica<strong>do</strong> em 1971).Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>139