<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseÉ especialmente no início que as mães são vitalmente importantes e <strong>de</strong>fato é tarefa da mãe proteger o seu bebê <strong>de</strong> complicações que ele aindanão po<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r, dan<strong>do</strong>-lhe continuamente aquele pedacinhosimplifica<strong>do</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que ele, através <strong>de</strong>la passa a conhecer(WINNICOTT, 1984, p. 227).Portanto, a partir da teoria <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>, po<strong>de</strong>mos conceber que quan<strong>do</strong>, porqualquer motivo, a mãe não consegue aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seu bebê nas fasesiniciais, este último acaba por per<strong>de</strong>r a sua trajetória rumo à integração. Há, pois, umainterrupção na continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu ser, que acarreta uma perda da sensação <strong>de</strong>existência, já que não houve um suporte egóico por parte da mãe, com relação àproteção <strong>do</strong> self <strong>do</strong> bebê.O caso Douglas: consequências das falhas <strong>de</strong> um holding maternoE é neste ponto que eu acho oportuno convidar à reflexão o casosupramenciona<strong>do</strong>. Entre atendimentos, entre muitos “vamos brincar!”, entre um ououtro problema na escola, sonhos sobre assassinatos, mortes reais e um gran<strong>de</strong> temor <strong>de</strong>morte ro<strong>de</strong>a<strong>do</strong> por fantasmas, realizei – orientada por minha supervisora – umaconversa com a mãe <strong>de</strong> Douglas, com o fim <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r como se havia constituí<strong>do</strong>a vida <strong>de</strong>le <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a gravi<strong>de</strong>z.Devi<strong>do</strong> ao fato <strong>de</strong> a mãe <strong>de</strong> Douglas ter me apresenta<strong>do</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> início, uma falarelativamente <strong>de</strong>sorganizada, a nossa comunicação se estabeleceu <strong>de</strong> uma maneiraproblemática. Quan<strong>do</strong> eu a questionei sobre a gestação <strong>de</strong> Douglas, a sua respostaimediata foi: “traumatizante”. Ao longo <strong>de</strong> nossa conversa, ela me relata que foi pega <strong>de</strong>surpresa com a gravi<strong>de</strong>z: ainda tinha uma filha <strong>de</strong> colo, <strong>de</strong> aproximadamente oitomeses, quan<strong>do</strong> soube que estava esperan<strong>do</strong> mais um filho. Relata que a gravi<strong>de</strong>z <strong>de</strong>stafilha, a única irmã <strong>de</strong> meu paciente, foi muito difícil para ela, a mãe, e que a suasegunda gravi<strong>de</strong>z, a <strong>de</strong> Douglas, foi um trauma, um gran<strong>de</strong> sofrimento.Des<strong>de</strong> o começo da gravi<strong>de</strong>z a mãe teve <strong>de</strong> ficar <strong>de</strong> repouso, por conta <strong>de</strong> umsangramento logo nos primeiros meses. Sem o repouso, provavelmente per<strong>de</strong>ria o bebê.Ela conta que logo que ganhou o bebê ficou muito <strong>do</strong>ente e acamada, por um gran<strong>de</strong>perío<strong>do</strong>, quase chegan<strong>do</strong> a morrer. Neste momento, eu me pergunto a cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> quemficou Douglas, nesses momentos iniciais tão importantes? Enten<strong>do</strong>, então, que,<strong>de</strong>sprovi<strong>do</strong> <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s maternos, Douglas teve um movimento <strong>de</strong> ter <strong>de</strong> preocupar-seconsigo, teve <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se e não po<strong>de</strong> viver as suas experiências corporais. Com isto,relaciono a este momento o gran<strong>de</strong> me<strong>do</strong> que Douglas tem da morte. Des<strong>de</strong> os nossosUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>178
<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseprimeiros encontros, ele, sem perceber, relata sobre seu gran<strong>de</strong> temor da morte. Porvezes, ele me dizia o quanto queria po<strong>de</strong>r constituir uma família, ter seus filhos e umacasa com um gran<strong>de</strong> aquário; dizia, também, como se achava novo para morrer; quetinha muito ainda que viver. Douglas me relatou, ainda, <strong>do</strong> me<strong>do</strong> que tinha em serassalta<strong>do</strong> e <strong>de</strong> que o ladrão, ao a<strong>de</strong>ntrar em sua casa, pu<strong>de</strong>sse, ao final <strong>do</strong> roubotambém, matá-lo – algo que, no entanto, ele não tem trazi<strong>do</strong> mais em sessão. Ele tinhame<strong>do</strong> <strong>de</strong> lugares escuros, <strong>de</strong> vielas que não conhecia: suspeitava que ali estariaescondi<strong>do</strong> um ladrão que po<strong>de</strong>ria atentar contra sua vida. Em momentos posteriores, fui<strong>de</strong>scobrir que essa fantasia também era nutrida por sua mãe, que sempre lhe dizia <strong>do</strong>risco que tinha <strong>de</strong> ele ser assalta<strong>do</strong> e, também, <strong>de</strong> vir a ser morto pelo ladrão.Douglas não pô<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver, pois sua mãe não teve condições <strong>de</strong> lhe darholding. Por isto ele sentia-se persegui<strong>do</strong> pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> morte. Se não bastasse,Douglas me relata um episódio com sua irmã, aproximadamente um ano mais velha <strong>do</strong>que ele: ela o ataca com uma faca, supostamente por ele ter <strong>de</strong>struí<strong>do</strong> os seus esmaltes.Neste dia, Douglas se levanta, aproxima-se <strong>de</strong> mim e levanta a blusa, mostran<strong>do</strong>-me amarca <strong>de</strong>ixada em sua barriga pela facada da irmã.As falhas da mãe para com seu bebê – e por que não o conjunto <strong>de</strong> falhas eintrusões a que meu paciente foi submeti<strong>do</strong> ao longo <strong>de</strong> sua vida? – impediram oamadurecimento pessoal <strong>de</strong> seu filho. Ao contrário, em seu processo <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento emocional, principalmente nos momentos emocionais, nomeadamenteno perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência absoluta, Douglas foi leva<strong>do</strong> a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o seu self dasansieda<strong>de</strong>s e angústias, por conta da intrusão <strong>do</strong> ambiente e da falta <strong>de</strong> holding, <strong>de</strong>mo<strong>do</strong> a criar um mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> funcionamento que impedisse uma intrusão ambiental(PEREIRA e BERLINCK, 2006). Assim, Douglas po<strong>de</strong>ria ser entendi<strong>do</strong> como um bebêque possivelmente viveu permanentemente em seu próprio mun<strong>do</strong> interno, o queimpossibilitou a sua integração. Portanto, a incapacida<strong>de</strong> da mãe <strong>de</strong> prover ao seu bebêum ambiente facilita<strong>do</strong>r surge como um risco <strong>de</strong> interferência no próprio processo <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento saudável <strong>do</strong> bebê.As alucinações visuaisAinda, po<strong>de</strong>mos pensar em outro sintoma <strong>de</strong> Douglas: a alucinação visual.Segun<strong>do</strong> seu relato, ele vê <strong>do</strong>is homens, um <strong>de</strong> branco e outro <strong>de</strong> preto, quepermanecem ao seu re<strong>do</strong>r na escola. Com isto, po<strong>de</strong>mos inferir um fracasso nas relaçõesobjetais <strong>do</strong> indivíduo, nas quais ele <strong>de</strong>senvolve um outro tipo <strong>de</strong> relação com a ilusão,Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>179
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