<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanálisePor outro la<strong>do</strong>, o meio ambiente sen<strong>do</strong> um lugar em que vivemoshistoricamente, culturalmente e socialmente, é percebi<strong>do</strong> subjetivamente eobjetivamente conforme o mun<strong>do</strong> construí<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong> amadurecimento singular: sãoexperiências lúdicas tecidas pelas brinca<strong>de</strong>iras e jogos da vida. A imaginação se fazrealida<strong>de</strong> assumin<strong>do</strong> uma ilusão <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> interpreta<strong>do</strong> e compreendi<strong>do</strong> pelas regras enormas <strong>do</strong> eu (self) e não–eu, <strong>de</strong>struídas e reconstruídas ao longo da vida. Um processocriativo que necessita da <strong>de</strong>struição para surgir o novo, necessita <strong>do</strong> ódio para ter acoragem <strong>de</strong> se rebelar e <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser submissa às vonta<strong>de</strong>s primitivas e <strong>de</strong> possessão <strong>de</strong>objetos transicionais.É no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, crianças ouadulto, po<strong>de</strong> ser criativo e utilizar sua personalida<strong>de</strong> integral: e ésomente sen<strong>do</strong> criativo que o indivíduo <strong>de</strong>scobre o eu (self).(WINNICOTT, 1975, p. 80)O brincar, como processo media<strong>do</strong>r da aprendizagem <strong>de</strong> crianças ea<strong>do</strong>lescentes, transfere a partir <strong>do</strong> lúdico uma construção <strong>do</strong> espaço potencial noimaginário, o <strong>de</strong> projetar seu inconsciente via corporal e textual como linguagem nasbrinca<strong>de</strong>iras, capaz <strong>de</strong> transformar-se em diversos contextos, estimulan<strong>do</strong> o<strong>de</strong>senvolvimento da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abstração da criança subjetivada na interação com oOutro.Uma proposta pedagógica e a realida<strong>de</strong>Neste momento irei sucintamente explorar algo que não faz parte <strong>do</strong> trabalho<strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>. Ao contrário <strong>do</strong> autor, pensamos que há elementos da Psicanálisepossíveis <strong>de</strong> serem utiliza<strong>do</strong>s na escola. É evi<strong>de</strong>nte que não estamos procuran<strong>do</strong> serpsicoterapeutas ou terapeutas e nem ocupar um espaço da área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental.Pensamos numa escola que represente perante a comunida<strong>de</strong> um espaço acolhe<strong>do</strong>r,criativo e pedagógico 68 .Para existir esse lugar diferente, precisamos consi<strong>de</strong>rar, no campo educacional,que ele seja o espaço <strong>de</strong> aprendizagem, lugar privilegia<strong>do</strong> na perspectiva <strong>de</strong> construçãoda autoria <strong>do</strong> pensamento e autonomia, ao qual <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da subjetivida<strong>de</strong> e objetivida<strong>de</strong>68 Segun<strong>do</strong> Nilce da Silva (2003, p. 75): “espaço <strong>de</strong> acolhimento” (ponto <strong>de</strong> vista da necessida<strong>de</strong> daassistência, material ou psicológica, <strong>do</strong>s nossos sujeitos); “espaço <strong>de</strong> criação” (<strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista dapsicanálise, da psicologia, na medida em que tal espaço, ao permitir criação, tem característicasterapêuticas); “espaço pedagógico” (<strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista das ciências da educação, já que os processosensino-aprendizagem estarão presentes no referi<strong>do</strong> espaço).Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>156
<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisecriada ou iniciada na Educação Infantil e se esten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong>s anos no EnsinoFundamental.Quan<strong>do</strong> pensamos em espaço acolhe<strong>do</strong>r, queremos dizer que seja um lugar <strong>de</strong>confiança entre as pessoas para refletirmos e tomarmos <strong>de</strong>cisões coletivas que atendamas especificida<strong>de</strong>s da comunida<strong>de</strong> a qual ofereça projetos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> mun<strong>do</strong>s esuas relações alternativas <strong>de</strong> forma a complementar a extensão familiar, sem substituiros enlaces da família e sim contribuin<strong>do</strong> para o seu amadurecimento.A criativida<strong>de</strong> surge das brinca<strong>de</strong>iras, da arte espontânea, das danças, músicase teatralizações <strong>de</strong> diversos gêneros <strong>de</strong> peças. Ser um lugar para que to<strong>do</strong>s possamrepresentar seus espaços potenciais, oferecer oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> participação das criançase a<strong>do</strong>lescentes como atores e não como meros expecta<strong>do</strong>res da plateia.O fazer pedagógico é a parte que <strong>de</strong>veria aten<strong>de</strong>r os alunos conforme suaspotencialida<strong>de</strong>s, não no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> excluir ou rotular (estigmatizar), mas o <strong>de</strong> ofereceroportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem. Neste ponto, assim como na psicanálise, temos aimpressão <strong>de</strong> estarmos cometen<strong>do</strong> um trabalho sem resulta<strong>do</strong>s a curto, médio ou longoprazo. Há falhas no processo da aprendizagem que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da relação <strong>do</strong> professor ealuno, <strong>do</strong> aluno com o conhecimento e <strong>do</strong> aluno em relação a si mesmo. A imersão nouniverso das letras <strong>de</strong> forma prazerosa, na interdisciplinarida<strong>de</strong> <strong>do</strong> apresentar asespecificida<strong>de</strong>s das diversas disciplinas, ou <strong>de</strong> oferecer uma seqüência didática sobreum tema. São meios para se encontrar a alegria em pertencer à escola pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><strong>de</strong>scobrir e não pelo ato da obrigação submissa <strong>de</strong> estar na sala <strong>de</strong> aula.Por outro la<strong>do</strong>, há a agressivida<strong>de</strong> em relação à escola: crianças e a<strong>do</strong>lescentesper<strong>de</strong>ram o respeito pelos pais, enfrentam com ódio os professores 69 ou oconhecimento 70 objetivamente mais elabora<strong>do</strong> que requer um processo da escolarização.As palavras em seus diálogos são explicitamente erotizadas, os pais <strong>de</strong>positam seus69 Qual a representação social <strong>do</strong> professor? Uma representação social <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprestigio e <strong>de</strong>svalorizaçãoperante a socieda<strong>de</strong>? Um não reconhecimento como profissão? Atuação semelhante ao sacerdócio?Admira<strong>do</strong> e odia<strong>do</strong> ao mesmo tempo?70 Segun<strong>do</strong> Gorz (2005), o conhecimento nas atuais relações <strong>de</strong> trabalho vem substituin<strong>do</strong> o capital fixomaterial pelo capital humano, o “imaterial” imensurável é agrega<strong>do</strong> ao produto final na socieda<strong>de</strong> dainformação. Por não ser i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> como custo <strong>de</strong> produção, o conhecimento não po<strong>de</strong> ser umagran<strong>de</strong>za incorporada no valor final da merca<strong>do</strong>ria assume um esta<strong>do</strong> da arte, seu valor <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à escassez<strong>de</strong>ste conhecimento atinge patamares eleva<strong>do</strong>s na criação <strong>de</strong> produtos exclusivos pelas corporaçõestecnológicas em áreas como as: farmacêuticas, <strong>de</strong> softwares, agropecuárias e <strong>de</strong> consultorias.Por outro la<strong>do</strong>, o conhecimento utiliza<strong>do</strong> na “economia <strong>do</strong> conhecimento” é incorpora<strong>do</strong> e trata<strong>do</strong> comoproprieda<strong>de</strong> intangível exclusiva da empresa. É uma bolha financeira o capital imaterial, assim que aten<strong>de</strong>as necessida<strong>de</strong>s produtivas esse conhecimento po<strong>de</strong> ser converti<strong>do</strong> em franquias, à publicida<strong>de</strong> assumeum papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconstrução <strong>do</strong> interesse coletivo. Um novo ser humano esta sen<strong>do</strong> gera<strong>do</strong> a partir daspropagandas vinculadas na mídia, há o apelo pelo consumo <strong>de</strong> tecnologia, mas pouca qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vidafica em evi<strong>de</strong>ncia e a escassez <strong>de</strong> serviços favorece as privatizações numa lógica da globalização.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>157