<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseespecialização no campo da pediatria e atuação em serviços públicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,colaborou para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um olhar <strong>do</strong> psicanalista que po<strong>de</strong> fazer outracoisa que não a psicanálise orto<strong>do</strong>xa.Valorizou o conhecimento da Psicanálise que po<strong>de</strong> fomentar práticas quepromovam o <strong>de</strong>senvolvimento humano, por meio, por exemplo, <strong>de</strong> palestras a pais eprofissionais, <strong>de</strong> contatos com a família <strong>de</strong> entes a<strong>do</strong>eci<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> consultas terapêuticassem ocorrer necessariamente o seguimento <strong>de</strong> uma análise. Em relação às últimas<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u que “se houver um tipo <strong>de</strong> caso que po<strong>de</strong> ser ajuda<strong>do</strong> por uma ou três visitas aum psicanalista isso amplia imensamente o valor social <strong>do</strong> analista” (WINNICOTT,1965/1994, p. 244). Ressalta, entretanto, que na base <strong>do</strong> encontro terapêutico está acapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> brincar <strong>do</strong> analista e sua atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> favorecer o brincar <strong>de</strong> seu paciente.No caso das consultas terapêuticas realizadas com crianças, que possuem formasdiferentes <strong>do</strong> adulto para se comunicar, <strong>Winnicott</strong> criou um meio para facilitar osprimeiros encontros com este público – o “Jogo <strong>do</strong> Rabisco”. De acor<strong>do</strong> com ele, este“é simplesmente um méto<strong>do</strong> para estabelecer contato com um paciente infantil”(WINNICOTT, 1964-1968/1994, p. 231).<strong>Winnicott</strong> não <strong>de</strong>sejava <strong>de</strong>screver os procedimentos <strong>de</strong>sta técnica, com temor <strong>do</strong>uso que po<strong>de</strong>ria ser feito <strong>de</strong>sta exposição no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> se indicar caminhos estreitosque <strong>de</strong>veriam ser rigidamente trilha<strong>do</strong>s pelos segui<strong>do</strong>res. Apesar <strong>de</strong> ter posterga<strong>do</strong> a<strong>de</strong>scrição <strong>do</strong> “Jogo <strong>do</strong> Rabisco”, <strong>Winnicott</strong> contou um pouco sobre esta técnica,sinalizan<strong>do</strong> que convida a criança a jogar um jogo, no qual um <strong>do</strong>s participantes inicia o<strong>de</strong>senho por meio <strong>de</strong> um rabisco que será finaliza<strong>do</strong> pelo outro. Após este primeiro<strong>de</strong>senho, os papéis se invertem e aquele que começou o <strong>de</strong>senho <strong>de</strong>verá terminarsegun<strong>do</strong> o rabisco produzi<strong>do</strong>. A ativida<strong>de</strong> segue ao longo <strong>do</strong> tempo disponível quepossuem para a Consulta Terapêutica. De acor<strong>do</strong> com <strong>Winnicott</strong> (1964-1968/1994, p.232), “no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> uma hora, fizemos juntos 20 a 30 <strong>de</strong>senhos e, gradualmente asignificância <strong>de</strong>stes <strong>de</strong>senhos conjuntos tornou-se cada vez mais profunda e é sentidapela criança como fazen<strong>do</strong> parte <strong>de</strong> uma comunicação <strong>de</strong> importância”.Compreen<strong>de</strong>-se que esta é uma técnica simples e <strong>de</strong> baixo custo quanto aosrecursos materiais necessários, fato que contribui para o emprego em serviços públicos<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Por outro la<strong>do</strong>, <strong>de</strong>manda um amplo conhecimento teórico <strong>do</strong> profissional quese propõe a utilizá-la, <strong>de</strong> maneira que ele possa compreen<strong>de</strong>r a linguagem simbólicatrazida por meio <strong>do</strong>s <strong>de</strong>senhos produzi<strong>do</strong>s conjuntamente. A<strong>de</strong>mais, <strong>de</strong>ve ser umUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>46
<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseprofissional capaz <strong>de</strong> brincar com o outro e a<strong>de</strong>ntrar neste jogo on<strong>de</strong> ambos se mostrame se relacionam por meio da linguagem gráfica, nem sempre familiar a to<strong>do</strong>s.Adaptações e criações a partir <strong>do</strong> “Jogo <strong>do</strong> Rabisco”A partir <strong>de</strong> uma contextualização inicial acerca <strong>do</strong> “Jogo <strong>do</strong> Rabisco”, tal comoproposto por D.W. <strong>Winnicott</strong>, <strong>de</strong>sejamos discorrer sobre adaptações e criaçõesposteriormente realizadas. Neste senti<strong>do</strong>, em breve levantamento junto à literaturacientífica nacional acerca da temática, foi possível encontrar variadas referências aotema <strong>do</strong> “Jogo <strong>do</strong> Rabisco”.Há autores que indicaram o emprego <strong>do</strong> “Jogo <strong>do</strong> Rabisco” enquanto uma dasestratégias utilizadas para realização <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> processo <strong>de</strong> diagnóstico e avaliaçãopsicológica (ARAÚJO, 2007). Outros autores sinalizam que o “Jogo <strong>do</strong> Rabisco”passou a ser utiliza<strong>do</strong> como recurso que compõe o processo <strong>de</strong> diagnóstico na áreapsicopedagógica (SILVEIRA, 2010). Nestes casos, pensamos que a técnica mantém-sepróxima da inicialmente formulada por <strong>Winnicott</strong>, inclusive a partir da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> recursopertinente para utilização nas entrevistas iniciais com a criança.Diferentemente, outros autores propuseram adaptações na técnica inicial. Nestassituações, é pertinente retomar o apontamento <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> sobre a apresentação feitasobre o “Jogo <strong>do</strong> Rabisco”,hesitei em <strong>de</strong>screver esta técnica, que utilizei muito no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> umcerto número <strong>de</strong> anos, não apenas por ser um jogo natural que duaspessoas quaisquer po<strong>de</strong>m jogar, mas também porque se começar a<strong>de</strong>screver o que faço, é provável que alguém comece a reescrever o que<strong>de</strong>screvo como se fosse uma técnica estabelecida, com regras eregulamentos. Aí, to<strong>do</strong> valor <strong>do</strong> procedimento se per<strong>de</strong>ria.(WINNICOTT, 1964-1968/1994, p. 231)Enten<strong>de</strong>mos que, por meio <strong>de</strong>ste apontamento, <strong>Winnicott</strong> autoriza osprofissionais a se inspirarem em suas propostas, mas com possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> agircriativamente e construir seus próprios mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> trabalharem no contexto clínico. Deforma geral, ao se atuar a partir <strong>de</strong> um referencial winnicottiano, compreen<strong>de</strong>mos que, a<strong>de</strong>speito das adaptações na técnica proposta, <strong>de</strong>ve-se sempre embasar a atuação <strong>do</strong>profissional a partir da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> oferta <strong>de</strong> um ambiente suficientemente bom. Buscamos,então, ofertar um ambiente aberto ao lúdico e facilita<strong>do</strong>r da emergência <strong>do</strong> gestoespontâneo <strong>do</strong> paciente. De acor<strong>do</strong> com <strong>Winnicott</strong> (1964-1968/1994, p. 243),Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>47