Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...
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prescindir deles para tentar compreender qual terá sido, dezoito anos apenas após a<br />
criação da obra, o enquadramento formativo e profissional do trabalho nele executado<br />
por Francisco Lorete.<br />
Pese embora a especificidade do local e das datas, que infelizmente se distanciam<br />
do nosso caso de estudo, a ausência de escritos regulamentares da actividade destes<br />
oficiais que trabalhavam a madeira para o início do século XVI e para a cidade de<br />
Coimbra, leva-nos a tentar vislumbrar neste conjunto de prescrições alguns indicadores<br />
do que se poderá ter ocorrido algumas décadas antes. Para o caso do trabalho de Lorete,<br />
que se conforma em moldes tão distintos do de Machim, o carácter posterior destes<br />
regimentos, acaba por apresentar um ponto de contacto fundamental, que não<br />
poderíamos aplicar ao artista e à obra de 1513: a preponderância da recuperação do<br />
modelo clássico e das obras feitas “ao romano”. Desta forma, a descrição das provas a<br />
prestar pelo candidato a oficial de ensamblagem ou de talha torna-se efectivamente<br />
aplicável, sempre com as devidas reservas, a uma abordagem hipotética da<br />
aprendizagem e dos saberes adquiridos pelo mestre francês. Sem nos prendermos aqui<br />
com a distinção estabelecida <strong>entre</strong> os ofícios de ensamblador e entalhador que, como<br />
vimos acabava por não ter aplicação prática, podemos inferir dos referidos regimentos<br />
que o conjunto das provas a que os candidatos eram submetidos tinham como objectivo<br />
avaliar um conjunto de capacidades que iam desde aspectos tão básicos como o domínio<br />
dos materiais e a produção própria de tudo quanto fosse necessário à execução do<br />
ofício, desde a elaboração das colas 225 e das próprias ferramentas 226 , passando pela<br />
projecção e execução de estruturas com obediência às regras de proporção 227 e<br />
sobretudo com conhecimento das ordens e elementos arquitectónicos 228 , até à execução<br />
225 “O painel grudaraa cõ grude de pexe que por sua mão faraa diante dos examinadores”, CORREIA,<br />
Vergílio. Livro dos Regimẽtos dos officiaes mecanicos da mui nobre e sẽpre leal cidade de Lixboa<br />
(1572), Coimbra, Imprensa da Universidade, 1926, p. 109. Cf. LANGHANS, Franz-Paul. As<br />
Corporações dos Ofícios Mecânicos: subsídios para a sua história, vol. I, p. 461.<br />
226 “Item faraa mais alem da sobredita peça algũs instromẽtos per onde se conheça que os sabe fazer e<br />
ordenar – a saber – hũa garloppa, hũ rebotte, hũ Guilherme, hũ filharete, hũ ceppo de moldura bem<br />
ornada”. CORREIA, Vergílio. Livro dos Regimẽtos dos officiaes mecanicos da mui nobre e sẽpre leal<br />
cidade de Lixboa (1572), p. 110.<br />
227 “…faraa hũ painel de sete palmos de alto e cinco de largo e isto se entenderaa cõ o quadro que teraa<br />
ao redor, o qual ocuparaa por cada parte meo palmo e nelle faraa hũa moldura cõ ceppos soltos muito<br />
bem feita e ordenada que ocupe tres partes de quatro da largura do caxilho…”. CORREIA, Vergílio.<br />
Livro dos Regimẽtos dos officiaes mecanicos da mui nobre e sẽpre leal cidade de Lixboa (1572), p. 109.<br />
Cf. LANGHANS, Franz-Paul. As Corporações dos Ofícios Mecânicos: subsídios para a sua história, vol.<br />
I, p. 461.<br />
228 “Ornaraa este painel cõ duas colunas dóricas proporcionadas a altura delle as quaes depois de<br />
torneadas estriaraa pela ordem que estrião as columnas dóricas. […] Encima das columnas faraa hũ<br />
friso assi mesmo dórico cõ tegriphos bem compartidos, architraue, friso e cimalha e encima frontispício<br />
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