Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...
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Joaquim de Carvalho, não tinha relação directamente proporcional à qualidade do seu<br />
conteúdo. Embora pudesse ser, de facto, “pequena para casa tão grande”, a verdade é<br />
que a livraria dos crúzios recebeu particular atenção durante o século XVI 99 , o que nos<br />
diz algo de verdadeiramente significativo quanto às características da comunidade que<br />
recebeu o novo cadeiral de coro, bem como ao contexto cultural em que a encomenda<br />
surgiu. Tratava-se, efectivamente, de um dos centros religiosos, artísticos e culturais<br />
mais dinâmicos no âmbito de uma época já de si particularmente dinâmica em termos<br />
das mais variadas manifestações culturais, que a partir da invenção da imprensa<br />
passaram a ter no livro o seu suporte mais natural e o seu meio de difusão mais eficaz,<br />
algo que encontra eco na significativa colecção de incunábulos da livraria crúzia. Assim<br />
se entende, aliás, que ao prolífico scriptorium crúzio se tenha juntado (e<br />
progressivamente sucedido) uma imprensa própria, com tiragem tipográfica<br />
documentada a partir de 1530 100 .<br />
Enquanto centro artístico que foi, Santa Cruz parece ter procurado munir-se dos<br />
elementos necessários para inspirar fundamentar as suas escolhas artísticas e talvez até<br />
para apoiar os artistas que a ela chegavam para executarem as necessárias obras.<br />
Efectivamente “O favor a músicos, escultores e pintores estava nas tradições da casa,<br />
por isso não é para surpreender que na livraria do mosteiro se encontrasse o que de<br />
melhor houvesse em tratadistas de arte, o que melhor traduzisse a funda revolução que<br />
então agitava os espíritos.” 101 De facto, <strong>entre</strong> uma vasta e variadíssima lista de<br />
incunábulos do século XV, onde se podem encontrar obras de autores como Averróis,<br />
Avicena, Johannes Scotus, Hipócrates, Terêncio, Aristófanes, encontram-se também<br />
Sagredo 102 , Dürer 103 e, sobretudo, Hartmann Schedel 104 . Efectivamente, no catálogo de<br />
D. Pedro da Encarnação, existe uma entrada extremamente significativa para a<br />
99<br />
Cf. CARVALHO, Joaquim Martins Teixeira de, A Livraria do Mosteiro de Sta. Cruz de Coimbra, p. 33.<br />
100<br />
Cf. CARVALHO, Joaquim Martins Teixeira de, A Livraria do Mosteiro de Sta. Cruz de Coimbra, p.<br />
33.<br />
101<br />
CARVALHO, Joaquim Martins Teixeira de, A Livraria do Mosteiro de Sta. Cruz de Coimbra, p. 81.<br />
102<br />
Neste caso, a obra Medidas del Romano, na rara edição de Lisboa, de 1541. Cf. CARVALHO,<br />
Joaquim Martins Teixeira de, A Livraria do Mosteiro de Sta. Cruz de Coimbra, p. 81.<br />
103<br />
“Durerus – Albertus = Pictor et Architecus. De Vurbibus, Arcibus, Castellisque condendis, ac<br />
muniendis rationes aliquod praesenti bellorum necessitati accomodatissimae : nunc recens è Lingua<br />
Germanica in Latinam traductae. Parisiis ex Officina Christiani Wecheli, 1535. – folio.”, Apud cit.,<br />
CARVALHO, Joaquim Martins Teixeira de, A Livraria do Mosteiro de Sta. Cruz de Coimbra, p. 86.<br />
104<br />
Para uma enumeração das obras incluídas na Biblioteca, ou Livraria, de Santa Cruz é possível<br />
consultar, por exemplo: CARVALHO, Joaquim Martins Teixeira de, A Livraria do Mosteiro de Sta. Cruz<br />
de Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 1921; MADAHIL, A. G. da Rocha. “Inventário do<br />
Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra à data da sua extinção em 1834”, O Instituto, vol. 101, Coimbra,<br />
Gráfica de Coimbra, 1943, pp. 486-515.<br />
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